CINE 31

Prova inegável de que a qualidade de um filme não depende diretamente da língua, A Caça (Jagten) é uma obra totalmente dinamarquesa, desde o realizador (Thomas Vinterberg), até aos argumentistas, passando pelos atores principais (Mads Mikkelsen e Thomas Bo Larsen) e produtores. Lucas é um nórdico que trabalha, em regime alternativo, num jardim de infância (fora recentemente despedido do cargo de professor no ensino secundário), surgindo com um enorme problema: divorciado, luta em tribunal pela custódia do seu único filho. À medida que o tempo passa, surpreendentemente, a situação vai-se, progressivamente, revertendo, ganhando a confiança do filho, obtendo estabilidade no emprego, estabelecendo uma grande amizade com Theo e encontrando o amor, na pessoa de Nadja, companheira de trabalho. Todavia, uma mentira, perpetrada pela sua aluna Klara (filha do seu melhor amigo), que alega ter visto os genitais do seu professor, destrói por completo a vida deste: a sua relação amorosa deteriora-se, é maltratado pelos habitantes da sua pequena vila e afasta-se do grande amigo. Depois, como já é apanágio na 7ª arte, a personagem principal batalha, com um adjuvante (neste caso o filho), contra todos os outros (oponentes), que prometem fazer de tudo para intimidar o docente e derrotá-lo em tribunal. Em abono da verdade, devo referir que esta película me surpreendeu. Pouco falada pelos meios de comunicação social, nomeada a poucos prémios importantes e muito subvalorizada, A Caça é uma excelente obra cinematográfica, que consegue misturar ingredientes suficientes para a tornar explosiva: é polémica, analisa assuntos que têm de ser tratados “a pinças” e que são pertinentes na nossa sociedade, é acompanhada de uma boa dose de crítica e tem o condão de nos fazer refletir acerca do mundo que nos rodeia. O único contraponto é mesmo o facto de não ter sido muito badalada (se fosse uma produção americana talvez o tivesse sido…).