Finalmente vi hoje, via canal SIC - com direito a intervalo gigante - esta pouco subtil crítica aos dependentes de Internet, que interagem com os outros e o mundo através de avatares. No filme - baseado na BD "The Surrogates" [2005, escrita por Robert Venditti, desenhada por Brett Weldele] - leva a ideia destes avatares electrónicos ao extremo, corporizando-os na forma de andróides quase perfeitos, que o usuário controla remotamente, na segurança do lar, enquanto o seu substituto mecânico desempenha as tarefas quotidianas, trabalho, festas, guerra, etc. Acabaram os acidentes de trabalho, de viação, morte de soldados, etc. Quase ninguém interage através dos seus corpos naturais.
O ponto mais irreal é acreditar num futuro próximo em que 98% da população tem recursos para adquirir e manter um destes substitutos. Interessante o efeito de maquilhagem para dar aos actores a interpretar os substitutos um ar um pouco estranho, similar ao efeito do uncanny valley (vale da estranheza); e outros pormenores, comuns na Internet, como a falsa identidade. Por exemplo: uma louraça andróide é na realidade controlada por um homem, obeso e bem mais velho. As questões éticas e sociais de um novo modelo de sociedade são superficialmente abordados, desviando o foco para a inevitável subversão do sistema, e o assassinato de seres humanos através dos substitutos.
O personagem principal é Tom Greer [ Bruce Willis] um policia que tenta resolver o assassinato de um usuário, o que se julgava impossível. Obviamente, existe uma resistência de humanos "puros" que não usam tecnologia que são os habituais iludidos por rectóricas religiosas e que se autoexcluem da sociedade, caracterizados como um mix de rednecks/vagabundos liderados por um "Bob Marley" balofo que [SPOILER] é revelado como um substituto controlado pelo criador dos substitutos que na sua insanidade quer purgar a humanidade usando uma arma que destrói os substitutos e os usuários simultâneamente. [\SPOILER] James Cromwell, no papel de Canter, já tinha em "I, Robot" (2004) encarnado um papel de inventor dos robots, o Dr. Lanning. Coincidência, typecast ou de propósito?
Depois do seu substituto ser selvaticamente destruído pelos humanos "puros", Greer é suspenso, mas - surpresa! - vai continuar a investigação à revelia dos superiores. Ainda há algum esforço de realçar o isolamento da esposa de Greer, que se esconde no quarto ligada à maquina de controle da sua substituta desde o acidente que matou o filho de ambos, mas - e apesar de algumas poucas cenas de acção minimamente competentes - o filme não impressiona, dormiu em cima do potencial. Vale a pena ver o substituto de Bruce Willis com um penteado ridículo.
