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Even the celebrated spanking scene fails to knock much life into David Cronenberg's lugubrious tale of the tussle between Freud and Jung. Xan Brooks, The Guardian

A Dangerous Method is acclaimed director David Cronenberg’s best film in years. Owen Gleiberman, Entertainment Weekly

Given its long stretches of earnest and erudite scientific talk, “A Dangerous Method” might seem to be his calmest and most cerebral film yet. A.O. Scott, New York Times 

A Dangerous Method reeks of Oscar-bait — acclaimed actors playing historical figures while wearing celluloid collars and carrying parasols around old Europe. But sometimes a cigar is just a cigar, and a prestige piece is just a well-intentioned bore. Alonso Duralde, The Wrap

Cronenberg sticks close to the historical record, documented by letters and journals, while offering his interpretation of the facts. Given the specimens, much of the movie seems to unfold in a pristine petri dish. J. Hoberman, L.A. Weekley



Existem críticas e opiniões para todos os gostos, boas, más, assim-assim. De facto, olhando para o historial de Cronenberg, é estranho ver uma biografia história no currículo do mesmo realizador de Eastern Promises, A History of Violence, eXistenZ, Crash, The Fly, Scanner, etc. Mas questiono: é assim tão estanho ver sair da mente do realizador em causa, um filme cujo sentido de violência abandona o físico ou a ficção científica, se tivermos em conta que em 1993 este mesmo realizador ousou levar ao cinema o ousado filme M. Butterfly?
Recordemos rapidamente: China, espionagem, diplomacia, ópera, homossexualidade... e assim vistas as coisas, psicanálise parece-me simples.

No meio da blogosfera e até nas redes sociais, muito tenho lido sobre o filme e geralmente leio "esperava mais". Esperavam ver Freud transformar-se num monstro aligena e Jung viciado em desastres autómoveis. Ou quem sabe Sabina Spielrein, criadora de jogos interactivos? 
Talvez seja mesquinha no que diz respeito ao uso de fontes históricas ou leve demasiadamente a sério a questão "salvaguarda da memória" de duas, ou ouso dizer, três das pessoas mais importantes da época contemporânea. Mas existem coisas que a meu ver são intocáveis, e nisso Cronenberg foi totalmente respeitoso. Deixo outra questão: é obrigatório o cinema ir sempre além fronteiras e ousar ir além daquilo que existe? Não me parece quando de biografias se fala. Assim de repente, recordo-me de Oliver Stone em Alexander (2004) - o realizador quis ir mais além e a "aventura" não lhe correu bem. 
Podia igualmente ficar aqui a debater de forma infinita o que é que devia ser mais detalhado no filme, o que devia ter sido posto de lado, os exageros, as faltas de exactidão. Mas, como não acho que isso tenha acontecido, deixo essa parte da crítica chata, para quem queira. 






Cronenberg disse no Festival de Veneza que "esta é a minha primeira biografia convencional (... ) tento ressuscitar uma pessoa ou ressuscitar uma era” (...) "cada filme diz exactamente o que precisa”. “É um desafio, porque não podemos só fantasiar as pessoas e rodar”. Tudo isto como tem como pano de fundo uma proximidade à Guerra Mundial, que, nas palavras de Cronenberg, “pôs fim ao sonho de progresso e à assim chamada civilização europeia”.
Três exímios actores, três personagens históricas - Viggo Mortensen, Michael Fassbender, Keira Knightley, são respectivaente - Sigmund Freud, Carl Jung e Sabina Spielrein. No entanto outros dois actores merecem destaque: Vincent Cassel como Otto Gross (o psiquiatra psicótico) e Sarah Gadon que interpreta a mulher de Jung, Emma Jung
Já alguém imaginou a responsabilidade e a ousadia de colocar estas personagens em tela, bem como as teorias cientificas que defendiam? 
Agora recuem no tempo, situem-se no século XIX e XX (já com algumas diferenças e evoluções científicas) e pensem como é que a sociedade da época recebeu  as palavras e teorias que envolvem: neuroses, psicoses, perversões, sonhos, fantasias, histeria, sexo, libido, incesto, Édipo, Jensen, ego, semiótica. Ainda hoje, os cientistas da psicanálise são como que um mistério para a comunidade científica, até para nós - os comuns mortais, que temos tendência a "dar um sorriso" quando algumas destas palavras são usadas.






Para muitos, um sonho é um sonho, para os psicanalistas o sonho é uma forma de diagnóstico. Assunto bem focado no filme e ponto de ruptura entre Freud e Jung. Alguns dos críticos (pela negativa) do filme, consideram que Freud é pouco mencionado no filme, merecia mais - não sei se dizem isto porque queriam ver mais de Viggo, ou se nutrem de facto uma maior simpatia pelo cientista. Considero que Cronenberg fez propositadamente esta separação de personagens, dando talvez um maior enfanse a Jung - o pai da psicologia analítica e fazendo questão de mostrar o que os separa.
O filme preocupa-se em mostrar a união e o respeito mutuo entre os dois, mas é bastante claro naquilo que os divide. Tendo por base uma investigação histórica que teve como fonte, as cartas que os cientistas trocaram entre si, Cronenberg mostra as diferenças de forma clara. Jung não aceitava a justificação do trauma sexual para todos os conflitos psíquicos e Freud não aceitava que Jung se interessasse por fenómenos espirituais e religiosos.
Pouco tempo depois de cortarem relações, Freud - judeu, é perseguido pelos nazis, os seus livros são queimados e passam a constar na lista da literatura proibida, enquanto que Jung - suíço, torna-se um dos "pais da psiquiatria alemã". Muitos são aqueles que o consideram um defensor da causa "super-homem" e simpatizante das teorias de Adolf Hittler. Teoria esta, passível de controvérsia, pois é sabido que muitas das  obras de Jung também foram condenadas pelo regime nazi.




No meio destes dois homens, eis que surge Sabina Spielrein, intrepretada por Keira Knightley. Apesar de imaginar que tivesse sido soberbamente difícil  interpretar alguém que sofre de graves patologias, considero-a o "elo mais fraco" do filme. É uma interpretação muito física, mas mesmo no meio dos seus ataques, em que o corpo é conduzido por fortes espasmos, não a consigo levar muito a sério. Talvez a escolha da actriz  não tenha sido a mais feliz, ou talvez o problema seja só meu, pois não consigo ver em Keira uma russa judaica. 
A sua doença, o internamento e a relação com Jung é correcta. Alexandre Guerra escreveu no blog PiaR: "É uma mulher que entra doente numa clínica na Suíça e, anos mais tarde, esbate as suas debilidades e fragilidades para se colocar numa posição de força. E não tivesse sido morta pelos nazis (...), talvez tivesse sido tão influente para o século XX como foram Freud e Jung, sublinha Cronenberg."




Spielrein foi uma das primeiras mulheres psicanalistas do mundo. Em 1911, defendeu uma dissertação sobre um caso de esquizofrenia e nesse mesmo ano, tornou-se membro da Sociedade de Psicanálise de Viena. David Cronenberg centrou muito o filme nesta personagem. E porquê se tinha duas figuras que abafavam o lado feminino, pela importância que tiverem em vida e sobretudo após morte? É que Sabina doente, perturbada, louca - superou, curou-se. A doença dá lugar à cura, com esforço, determinação, com altos e baixos, com avanços e com recuos - superou através de método. Por muito perigoso que seja, depende do "eu", da vontade e do conhecimento - daquele que temos sobre nós, mas também daquele que temos sobre o que nos rodeia.

Com este filme Cronenberg grita bem alto: a humanidade necessita urgentemente de "método"... 


Uma nota extra para mencionar como incrível é o cenário "escritório de Freud". As prateleiras recheadas de livros e de estatuetas referentes ao divino feminino, são deliciosas. Reparem sobretudo na pré-histórica Vénus de Willendorf.

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2 comentários até agora:.

  1. Anónimo says:

    Ainda não tive a oportunidade de ver o filme, mas ando bastante curioso sobre o mesmo.
    A crítica está muito boa e gostei bastante da conclusão.

    Cumprimentos.

  2. obrigado Aníbal. Se puderes volta depois de o veres, para dizeres se concordas comigo... ou não :)

    atentamente

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