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Alguns pequenos spoilers. Principalmente alguns disparates escritos a quente. Hoje está calor. Nem parece Outubro.
A momentos a tentativa de conexão com o Homem-Morcego soa um pouco forçada, mas não acaba por distrair demasiado do principal. Tal como a banda sonora incidental, o que é bom sinal. E falando nisso,  não esperava tanta música, ou melhor, canções, mas no geral casam bem com a acção e fotografia, que é fenomenal. A reconstituição parece-me bastante bem, para um português que nasceu em 1979 e nunca visitou os EUA da época. Nalgumas cenas quase esperava ver o Rorschach virar uma esquina. Malta que vê cinema a sério diria "qualquer-coisa-Scorcese-Taxy-Driver-filmes-do-MCU-sucks".
O Joaquin Phoenix merece a porra do Oscar sim senhor. Se vi outros prováveis candidatos às estatuetas? Não, o que isso interessa? O que interessa é que o realizador Todd Phillips tinha como destaque no currículo três filmes sobre bêbados e drogados. Quase como se agora descobríssemos que foi o Michael Bay que realizou a Lista de Schindler às escondidas para pagar uma aposta ao Spielberg.
A maioria das acusações que vi ao filme até agora provavelmente foram escritas por quem não viu o filme ou procura aproveitamento político - à esquerda e à direita (alguns sites e canais de TV mal podem disfarçar a decepção por ainda não ter acontecido um tiroteio para poderem culpar o filme). E aproveitamento parece-me ser um dos temas da fita, apesar de não ser telegrafado como a minha cena menos favorita: uma colagem de flashbacks "o que realmente aconteceu que já se previa à distância mas aqui fica a confirmação visual". O esprit du temps da Gotham/Nova Iorque dos anos 80 é podre e fedorento como o lixo - literal e figurado - que entulha as ruas não góticas e não neon (sorry, Tim Burton e Joel Schumacher) da cidade. A sério, percebo que algumas pessoas fiquem chocadas com os pequenos momentos de extrema violência, mas o Joker é um menino ao pé do John Wick. É curioso como violência não explicita consegue ser mais incómoda que as violência estilizada explicita. É um filme incómodo. Acho que é esse o seu propósito. E se o li bem nesta primeira visualização, bom trabalho.  Voltando ás reacções que vejo por ai, variam entre o "não é um vulgar filme de super-heróis" (dah), o "machismo tóxico", "glorificador das armas de fogo" ou "obra-prima". O conceito de obra prima não pode ser consensual, pela sua parte subjectiva, mas não está no meu TOP pessoal. é muito bom, mas não é assim tão bom. É muito tenso, uma interessante reimaginação de um personagem já muito gasto, mas que aqui tive um novo fôlego. Um bom exemplo da versatilidade multi-género dos desdenhados "filmes de super-heróis".
Por vezes os materiais de promoção tentam vender algo diferente do produto final. Se geralmente um trailer é montado para destacar as cenas de acção de um filme aborrecido, no caso do "Joker", tentou-se colar à doutrina do Joker anterior (ignorando aquele terrível que vocês sabem), o magistral Heath Ledger em "The Dark Knigth", e "herdada" da BD "Killing Joke": a ideia que uma pessoa comum num dia mau podia mudar de personalidade e passar para o Lado Negro da Força. Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), não é apenas um cidadão comum que é assaltado, espancado e se passa da cabeça. Arthur Fleck tem um longo historial de problemas mentais e uma situação social precária. E é maltratado por elementos da sociedade. Sejamos francos, a nossa sociedade actual - e ainda mais a de décadas atrás - não sabe lidar com as doenças mentais. E a essa ignorância dos cidadãos, dos doentes, dos amigos e colegas, junta-se a desinvestimento sistemático nas instituições que nem sempre podem curar mas apenas tentar manter um nível de normalidade e segurança para o próprio doente e os que o rodeiam. Curiosamente a única cara visível dos "ricos" que cortam investimento social não é aparentemente culpado de nada, aparenta ter boas intenções, apesar de arrogante. Mas se está dentro de certa etiqueta é esperado de si determinado comportamento. No geral, gostei que o nosso papel é de observador,  com poucos momentos de manipulação. Entre outras, pode-se fazer a leitura de como o populismo se torna atraente para os miseráveis, os injustiçados. Os protestantes aparentam apenas utilizar a situação de caos para criar mais caos. Acredito que actualmente um Joker real seria uma #hashtag com t-shirts à venda, para ser venerado por uns e odiado por outros. O próprio Joker parece indiferente ao movimento que ajudou a despoletar, até ele lhe dar a notoriedade com que ele anseia e alucina. É uma critica aos movimentos recentes como o "Occupy Wall Street"? Um Trump que normaliza e justifica a violência? Quem dá uma arma carregada a um doente mental é a personificação da NRA ou apenas um doutrinado na religião armamentista? Os ricos são todos maus? O capitalismo é o grande vilão? As nossas necessidades importam mais que a dos outros? O vilão é glorificado? Como vitima do sistema as suas acções são justificadas? Uma vendetta pessoal pode ser apropriada para servir os fins de outros? De forma consciente ou inconsciente? Os doentes mentais são mal representados, beatificados ou algo no meio? O espectador decide, ou não. Para este espectador, algumas dessas respostas são claras. O Joker não quer saber, o Joker só quer dançar, e que lhe batam palmas...

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