Find us on Google+

Widgets


 Desde 2012 (adivinhem) que não me entusiasmo por muitos filmes. Contudo, caí no hype em torno do Godzilla. Os trailers, posters, o bicho... tudo me pareceu fantástico. Mais, não só fui ver o Godzilla no cinema como fiz questão de ser esta, finalmente, a minha estreia no IMAX.

 Então, Godzilla é o melhor filme de sempre?

Eu acho que o filme é bom... mas ficou muito, muito, muito abaixo das minhas expectativas.

Vamos fazer isto ao estilo de The Good, The Bad and the Ugly, começando pelo Mau para sairmos daqui com um sabor agradável:

O MAU



O filme cai em todos os clichés do género. Eu queixei-me que o Godzilla de 1998, bem como a maioria dos filmes de monstros gigantes, se concentram demasiado nos humanos. Felizmente não se trata de um grupo de adolescentes. Aqui levamos estritamente com os militares do principio ao fim e o seu plano estúpido para salvar a humanidade. Não há muito mais que pudessem fazer, é verdade, mas mais valia estarem quietos.

 Como é costume no género, e também tal como no seu primeiro filme em 1954, o monstro leva tempo até aparecer. Muito, muito tempo. Não me chateou muito porque só nos torna cada vez mais ansiosos e os humanos a principio não incomodam tanto como no resto do filme. Eu fiquei genuinamente interessado com as cenas do Bryan Cranston pelo que até os monstros aparecerem estamos bem entregues. Mas o que não gostei foram as constantes paragens no aparecimento do Godzilla. Ele vai aparecendo aqui e ali mas demora até nos deixarem realmente aproveitar o seu espectáculo. Provocar a audiência é uma coisa mas aqui teria sido aceitável se não fosse feito com cortes repentinos precisamente nos melhores momentos. A dada altura torna-se irritante. Até porque, se formos a ver bem, no bilhete diz Godzilla. Não assinámos nenhum contracto, é certo, sim senhor, mas parece-me justo ser pressuposto que é o que queremos ver. Menos é mais mas o que nos dão à mistura não é minimamente interessante para aguentarmos até à próxima cena do bicharoco.

Sem ser spoiler, todas as nossas operações nucleares, cientificas ou bélicas, são o tema do filme. É um pouco mais complexo que isso mas digamos que a razão dos monstros existirem deve-se a isso. Existe, no entanto, um pormenor muito, muito estúpido. Os filmes do Godzilla, com a excepção do primeiro de 1954 que é o mais sério, sempre tiveram o seu toque de fantasia. Este de 2014, para um filme que quer ser levado a sério e navega pelos mares do realismo tanto quanto pode... foram arranjar umas quantas respostas parvas e difíceis de crer. Mas eu vou admitir, apesar de tudo, que parte de mim ficou feliz com a escolha. Sei que me estou a contradizer mas embora expliquem alguns eventos de forma difícil de digerir, para não voltar a dizer parva, fez com que tudo acabasse por ser possível abrindo assim as portas para a existência de futuros monstros e outros eventos que não quero estragar mas deixam os fãs com grandes, grandes nerdgasms.

Uma das cenas mais intensas


Voltando a falar dos militares, são uma constante nos filmes da Toho. Estamos muito bem a ver uma luta entre o Godzilla e o Ghidrah (que mais tarde passa a ser apelidado de Ghidorah) e há sempre pelo meio a tentativa dos japoneses de vencerem com tanques e aviões. Porque tem resultado tão bem desde 1954. Portanto não é bem por aí que eu me queixo, o confronto inútil dos militares sempre fez parte dos mitos do Godzilla. No entanto, os confrontos são isso mesmo, confrontos. Não ficamos a conhecer a família toda de um soldado, estamos ocupados a explodir coisas por todo o lado. Enquanto que, de facto, existem imensas, e quero mesmo dizer, IMENSAS personagens ao longo dos filmes da Toho que são inúteis e têm histórias que ninguém consegue imaginar nem na sala de espera do centro de saúde, ao menos têm aquele charme japonês em que há uma maluqueira em tudo com situações no minimo bizarras para nós no oeste. O meu problema com esta falta de concentração no Godzilla neste filme da Legendary está precisamente na falta de charme na personagem principal. Aliás, falta de seja o que for.

 Aaron Taylor-Johnson, que nos deu um Kick-Ass decente (embora todo o carisma estivesse na Hit-Girl), é aqui das personagens mais chatas que eu já vi. Não tem qualquer tipo de personalidade ou emoção e mesmo que tal seja justificado pela sua vida militar, para mim, não há interesse nenhum em ter uma personagem principal assim. Não houve UMA única cena em que eu achasse que ele estivesse bem. Não estava se quer, é inexistente. Honestamente, eu preferia olhar para uma pedra. Tecnicamente não se notaria a diferença mas pelo menos eu podia-me distrair com a textura. Foram imensas cenas em que enquanto algo entusiasmante acontecia, mal ele aparecia cortava-me toda a emoção. Em defesa dele, também não ajudou ter 3 pessoas atrás de mim que não se calaram durante o filme todo. Pelos vistos nem no IMAX me safo disso, há sempre alguém a merecer um murro de cada pessoa presente na sala.


 O FEIO



Eu





O BOM

Houve muita coisa que me irritou no filme. Mas, felizmente, enquanto que o filme tem aspectos maus, não tem aspectos bons. Tem aspectos incríveis.

Primeiro, a criatura MUTO.


O típico passageiro do metro de Lisboa às 18h

 Pode parecer um monstro genérico e até certo ponto acho que é aceitável, mas não deixa de ser interessante. Mostra imediatamente que os humanos não têm chance contra ele e tal não se deve exclusivamente ao seu tamanho. Tem um design fantástico que em alturas relembra um morcego (o que é sempre um +1 da minha parte) e move-se de forma entusiasmante. Isto foi um comentário esquisito, eu sei, mas sou fã de criaturas com movimentos complexos. Como adversário do Godzilla, resulta perfeitamente. Não é um Ghidrah ou um Gigan, ou para ser mais nerd, um Destoroyah, mas é uma adição bem vinda e é entusiasmante ver, finalmente, o Godzilla a lutar com alguma coisa no grande ecrã que não seja um taxi.


 Bryan Cranston volta a brilhar e a consumir o papel. Há uma cena em particular em que é uma aula de teatro por o preço de um bilhete de cinema. Também Ken Watanabe dá-se bem, sendo uma personagem que, no fundo, é uma criança de 8 anos que só quer ver monstros à luta. Mas esconde bem, o gajo.


A música merece aplausos. Não brilha a 100% mas tem sequências que complementa perfeitamente o que se passa, com especial destaque à primeira aparição do Godzilla e ao Halo Jump que vimos no trailer.

 Falando desse Halo Jump, foi das poucas cenas que me fez perceber o que vale a pena no IMAX. Toda a resolução extra deu uma dimensão fantástica. A cena em questão difere um pouco do trailer mas tenho a dizer que é das melhores do filme. Está mágnifica em termos de ritmo, timing, visualmente e mesmo a nível de áudio, com tudo isto a criar uma ainda maior adrenalina.


 Mas vá, vamos lá falar do que interessa. A salamandra em si.


O Rei dos Cajús está de volta!


 Se leram até aqui, entendem que, para mim, o filme tem imensos problemas que quebram muito a experiência. No entanto, a atração principal é... incrível.

 A primeira aparição do Godzilla é soberba. Quando a câmara sobe e vemos todo o esplendor da criatura e esta solta o seu icónico rugido, ao som das colunas de cinema... eu juro-vos que se sente o coração disparado. A última vez que senti o coração a bater assim foi com a Lara do 6ºF. Jesus, aqueles olhos azuis... eu só desejava dividir o meu ordenado com ela e mostrar-lhe Carcavelos.

 Embora haja destruição na cidade, o filme não perde muito tempo com o Godzilla a passear pelo Martim Moniz a destruir coisas. Não, ao contrário do G.I.N.O. (Godzilla In Name Only) de 1998, este não vem à cidade para fugir. Este vem à cidade para lutar e, perdoem-me a expressão fraca, tá-se bem a cagar para os humanos. Aqui entram as homenagens à clássica franquia. O Godzilla da Toho começou por ser um vilão e ainda o voltou a ser em vários reboots da saga (mas sempre com o filme de 1954 como a origem) mas por norma era considerado um herói havendo até alguns filmes que tentam ter uma abordagem mais infantil, onde acaba por nascer o filho do Godzilla que ainda hoje ninguém entende muito bem como devemos aceitar aquilo.



Bem, ao menos não escondem que andaram a fumar
 Nós adoramos o Godzilla e o filme também. Nota-se que divertiram-se a criá-lo e há todo um respeito em torno dele, bem como o seu legado. A banda sonora é bruta, como deve ser, mas também há homenagem aos filmes japoneses com um tom mais clássico que não se espera mas que deixa um fã feliz e mostra que entenderam o conceito da criatura sem deixarem de criar a própria visão. Isso, amigos, é como um reboot deve ser feito. E se acham que o Godzilla nesta versão parece ser demasiado grande e até gordo... não temam quanto a isso, as lutas são à antiga, não há cá um Schwarzenegger em CGI a empurrar o Christian Bale de um lado para o outro sem fazer mais nada, não, aqui lutam como queremos. E na luta final são nos reservadas algumas surpresas que farão o cinema aplaudir. Ou pelo menos assim o espero, na minha sala estavamos demasiado ocupados a querer calar os imbecis atrás que narram o filme todo.

 Os meus problemas são com o guião. Por isso, vou poupar o Gareth Edwards pois mesmo tendo cenas de destruição maciça, consegue ainda fazer momentos de subtileza como não se via nos blockbusters há muito. Michael Bay devia estagiar com o Gareth Edwards durante umas temporadas. Tem cenas de acção com o mesmo calibre, por vezes ainda mais, e consegue conjugar no meio disso tudo uma poesia visual que não chega a ser pretensiosa, é justificada pelo evento de uma batalha entre colossos, sendo um deles um Deus da Terra. Nota-se que o Gareth sabe o que está a fazer e, uma vez mais, que respeita o material que adapta.




 Resumo e coiso

  Vale a pena ver no cinema? Sim. Tem o suficiente que se justifique o preço de um bilhete. Mais do que um ecrã enorme, recomendo o melhor sistema de som possível.

 Como experiência, é do melhor deste ano e será certamente memorável por muito tempo.

 Como blockbuster, tem tudo o que se quer e mais algum.

 Como filme... podia ser melhor. Mas um filme é isso, é uma experiência e é também um blockbuster, um evento que corre de boca em boca como aquela lata de coca-cola que só queríamos ter partilhado pelas raparigas mas há sempre um gajo que se mete e acabamos por dizer "podes ficar com o resto".


Agora perdi-me.


Bem, o importante é que agrada quem quer se divertir e agrada aos fãs. Na verdade, estou para encontrar um fã que se queixe do Godzilla e não do filme em si. Infelizmente, tem razões para se queixar do filme em si pois por muito que tenha cenas de cortar a respiração, tem âncoras que não o permitem chegar mais longe. Talvez melhore com uma segunda visualização pois agora sei onde estão as partes boas, deve ser mais fácil de aguentar ver a sub-plot entitulada À Procura de Carácter: A Viagem. Agora que penso sobre o filme 2 dias depois de o ter visto, eu não me lembro para que serviu a relação de família no filme. Nem tenho a certeza de haver algo que me fizesse querer saber.

 Mas em suma, vale a pena ser visto, sim. Mas tenham a noção que vão aturar cenas que sugam qualquer prazer que têm estado a ter. Ele volta, não duvidem disso, mas têm que fazer um esforço pois o filme está pilhado de cenas que no final não implicam rigorosamente nada.

No entanto, no que toca a Godzilla, vão bem servidos. Mesmo que ele não esteja no filme todo, é como uma comida gourmet: pode não encher o prato como um bom cozido à portuguesa ou uma travessa de caracóis; mas é dos melhores sabores que já sentiram e o facto de ser pouco faz com que saboreiem e abusem do paladar até ao final, deixando-vos cheios não de comida mas de satisfação.




Até verem quanto pagaram.





Categorias: , , ,

Deixe o seu comentário:

Partilhe os seus comentários connosco!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...