Esta é uma critica com algumas semanas de atraso, atraso esse motivado principalmente pela minha falta de vontade de falar sobre a minha maior decepção cinematográfica do ano. Pelo menos até agora. Não que o filme seja assumidamente mau, não. Mas o que desilude mais é o enorme potencial desperdiçado num filme que não arriscou, que não tem ritmo ou um fio condutor interessante. Nesta nova versão dos clássicos livros de Lewis Caroll (pseudónimo de Charles Lutwidge Dodgson), temos Tim Burton, um realizador consagrado, com a sua habitual genialidade visual para criar designs delirantes e mórbidamente atraentes. Mas ficou-se por ai. A nível de argumento desilude, apesar de ser um retalho dos livros "Alice's Adventures in Wonderland" (1865) e "Through the Looking-Glass, and What Alice Found There" (1871). Repete desnecessariamente trechos já vistos dezenas de vezes em outros filmes e séries, não se decidindo se o filme é um remake ou uma sequela. É verdade que a Alice já não é uma criança, mas sim uma jovem mulher que salta no desconhecido para escapar da sua vida tediosa e a um casamento arranjado. Esta Alice, atormentada em pesadelos pelas suas anteriores viagens à Underland, quando chega ao fundo do buraco repete as clássicas cenas em que cresce e encolhe para passar pela minuscula porta que dá acesso não à Wonderland mas a uma Underland devastada pela maligna Raínha Vermelha (retirada do segundo livro, não confundir com a mais conhecida Rainha de Copas, do primeiro livro), onde basicamente tem que aceitar que é o seu destino derrotar a Raínha Vermelha e o monstro Jabberwocky. E pelo caminho encontra algumas personagens bizarras. E pronto, a clássica "jornada do herói". Neste caso, uma heroína apática, que se recusa a acreditar no mundo pelo qual caminha...
Burton tinha feito melhor em optar pelo sua amada animação stop-motion em vez de um exagero na aplicação de efeitos digitais, que ainda por cima não são nada de especial. E "ouvi dizer" que a versão exibida em 3-D não justifica o dinheiro extra.
A minha cena favorita, das poucas em que se nota o dedo de Burton, foi quando Alice atravessa um fosso que rodeia o castelo, saltando por cima de cabeças de cadáveres, de vitimas de Rainha Vermelha. Confesso que me diverti ao ouvir uma mamã na fila atrás de mim assegurar ao filhote ( que perguntou o "que era aquilo?") que eram pedras.
No global, salva-se a interpretação da generalidade dos actores, principalmente Johnny Depp (o Chapeleiro Locuo) que tem mais um boneco para a sua galeria de bonecos, e a Helena Bonham Carter como a repetitiva mas carismática Rainha Vermelha. Ironicamente, destacam-se ainda mais que os actores de "carne-e-osso" as vozes das criaturas digitais, a cargo de actores impecáveis como Alan Rickman (a Lagarta Azul) e Stephen Fry (Cheshire Cat).
Concluindo - que já divaguei muito para quem tinha pouca vontade de escrever - um filme com uma boa produção técnica, bons actores, boa banda sonora (Danny Elfman, em mais uma colaboração com Tim burton), mas que falhou em criar um produto final que se desejava alucinante, non-sense e que desafiasse as nossas percepções da realidade. Talvez mais sorte no próximo remake/re-imaginação...
li e, mais uma vez, concordo :)...Também já fiz a minha há uns tempos, podes perceber pelo que escrevi que não minto :P..
Bem o que me trouxe aqui ao teu blogue foi este filme :
Mr.Nobody, que apresento no meu blogue aqui em baixo
http://cinemaschallenge.blogspot.com/2010/07/ha-muito-tempo-que-nao-passo-por-aqui-e.html
Se calhar já o conheces,mas caso o teu caso seja o mesmo que era o meu ,nao conhecias mas vais querer conhecer depois de ver o trailer...Espero que depois possamos trocar opiniões.
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Concordo contigo, boa crítica! ^^
Gostei imenso do teu blog, que francamente desconhecia, está muito completo e gosto particularmente da "estética" adoptada! Parabéns e continua o bom trabalho.
Se puderes dá igualmente uma olhadela no meu blog www.depoisdocinema.blogspot.com, relativamente simples, mas cumpre os objectivos básicos diga-se, hehe :P
Sarah bem vinda ao Cine31! Obrigado pelas palavras de elogio! E vou agora espreitar o Depois do Cinema ;-) Volte sempre!