Crítica: Esta incursão do cinema português no reino do fantástico, mais do que uma película de terror é uma película de mal-estar, que consegue – sem grandes artifícios – introduzir inquietude nos nossos cérebros – mais ou menos – racionais. Reflecte uma luta entre as crenças urbanas e rurais, o lógico e o supersticioso. O cenário quase total do filme é uma aldeia isolada e opressiva, magnificamente caracterizada – sem pressas – por imagens da natureza, que talvez por si só não resultassem sinistras, mas que apoiadas numa grande e cuidadoso trabalho sonoro consegue criar uma magnífica ambientação. Eu não queria ficar na rua daquela aldeia depois do pôr-do-sol e de todas as portinhas e janelas serem imperiosamente encerradas, para manter o demónio do lado de fora. Pouco mais se pode falar sobre o enredo, além do básico, sem revelar pormenores importantes para o avançar da história, que sem ser tremendamente original – principalmente para quem conheça muitas histórias de mistério e fantasmas – é uma nova esperança para que em Portugal se comece a realizar filmes de inegável qualidade artística e simultaneamente compatíveis com o público, sem ter que recorrer exclusivamente à promoção e apelo de cenas de sexo (vocês sabem do que estou a falar) para atrair os espectadores ao escurinho do cinema e verem obras nacionais. Existe a necessidade de criações que combinem a arte e o comercial, o que é possível com muito trabalho e vontade. O cinema não se pode dividir somente em “filmes de intelectuais para intelectuais” e “filmes pipoca”. Digno de menção é o extraordinário trabalho de interpretação de todo o elenco, que contribui para a consistência de um trabalho final que poderia ter enveredado por um caminho mais fácil, com monstros ruidosos e “planos MTV” (ambos compreensíveis quando o objectivo final é outro), mas resultou numa obra séria e elegante, com os sustos utilizados com contenção e sem histerismos, recorrendo a uma banda sonora atmosférica e interessante, que ocasionalmente recorda filmes como “The Villlage” e “The Others”, ou o mal que não se vê, mas que se sente.
Creio que temos um filme de culto!
Pontos Altos: Ter sido escolhido para abrir o Fantasporto, a ambientação visual e sonora, os actores.
Pontos Baixos: Sente-se um pouco a falta de alguns minutos mais intensos, talvez pudesse ter ido um pouco mais além.
Veredicto: Muito interessante filme que combina o folclore de terror nacional com situações mais ou menos inesperadas, para criar uma película sinistra, que não fica atrás do que se pode fazer no estrangeiro, e que se sobreviver à trituradora da crítica pseudo-intelectual irá ficar na história do cinema português, por mérito próprio.
Já que niguém deixa commnents, lá tenho que vir eu aqui. Esta critica também está publicada no site do Cinema Xunga. Corram lá, mas corram mesmo, e vaiem (como se diz na minha terra)ver as outras criticas. é um site muito interressante, e não tou a dizer isto só porque eles puzeram lá duas criticas minhas...