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Sinopse: Uma família citadina muda-se de armas e bagagens para um grande e velha casa numa pequena aldeia que fica “para trás do sol-posto” e deparam-se com um ambiente físico e humano muito escuro e sinistro, onde ainda se realizam exorcismos a jovens com o demónio no corpo, e onde se tenta manter o mal – sem forma ou assumindo todas as formas – afastado, seja através da religião oficial (na figura de um padre veterano que já perdeu a conta ao exorcismo que fez ao longo da vida, e que já viu muito; e um padre novato, ainda impressionável com o que se passa à sua volta) ou das mais antigas e diversas crendices. A família protagonista não está propriamente entusiasmada com a mudança para a casa escura, mas realizam o desejo do pai de família, que recebeu a casa de herança, e que farto (quem o pode condenar?) da vida na cidade grande decidiu unilateralmente trazer a esposa (tal como o marido, uma mulher formada e cerebral que progressivamente irá confrontar o que acredita com os fenómenos que se desenrolarão na velha casa) e os três filhos: o mais novo, um adolescente preocupado com a ausência de TV Cabo e de tomadas onde ligar a consola de jogos; a filha do meio, jovem mãe solteira a braços com um bebé e com a incompreensão do seu pai; e o filho mais velho, um estudante universitário preocupado com os exames e com a sua independência. Todos serão espectadores e intervenientes em vários incidentes e situações – desde previsões de morte, aparições fantasmagóricas, poltegeists, sessões espíritas (organizadas pelos brincalhões da terra), e pelo vingativo segredo antigo enterrado nos terrenos do casarão – que modificarão para sempre as suas personalidades e atitudes, culminando num trágico clímax.

Crítica: Esta incursão do cinema português no reino do fantástico, mais do que uma película de terror é uma película de mal-estar, que consegue – sem grandes artifícios – introduzir inquietude nos nossos cérebros – mais ou menos – racionais. Reflecte uma luta entre as crenças urbanas e rurais, o lógico e o supersticioso. O cenário quase total do filme é uma aldeia isolada e opressiva, magnificamente caracterizada – sem pressas – por imagens da natureza, que talvez por si só não resultassem sinistras, mas que apoiadas numa grande e cuidadoso trabalho sonoro consegue criar uma magnífica ambientação. Eu não queria ficar na rua daquela aldeia depois do pôr-do-sol e de todas as portinhas e janelas serem imperiosamente encerradas, para manter o demónio do lado de fora. Pouco mais se pode falar sobre o enredo, além do básico, sem revelar pormenores importantes para o avançar da história, que sem ser tremendamente original – principalmente para quem conheça muitas histórias de mistério e fantasmas – é uma nova esperança para que em Portugal se comece a realizar filmes de inegável qualidade artística e simultaneamente compatíveis com o público, sem ter que recorrer exclusivamente à promoção e apelo de cenas de sexo (vocês sabem do que estou a falar) para atrair os espectadores ao escurinho do cinema e verem obras nacionais. Existe a necessidade de criações que combinem a arte e o comercial, o que é possível com muito trabalho e vontade. O cinema não se pode dividir somente em “filmes de intelectuais para intelectuais” e “filmes pipoca”. Digno de menção é o extraordinário trabalho de interpretação de todo o elenco, que contribui para a consistência de um trabalho final que poderia ter enveredado por um caminho mais fácil, com monstros ruidosos e “planos MTV” (ambos compreensíveis quando o objectivo final é outro), mas resultou numa obra séria e elegante, com os sustos utilizados com contenção e sem histerismos, recorrendo a uma banda sonora atmosférica e interessante, que ocasionalmente recorda filmes como “The Villlage” e “The Others”, ou o mal que não se vê, mas que se sente.

Creio que temos um filme de culto!

Pontos Altos: Ter sido escolhido para abrir o Fantasporto, a ambientação visual e sonora, os actores.

Pontos Baixos: Sente-se um pouco a falta de alguns minutos mais intensos, talvez pudesse ter ido um pouco mais além.

Veredicto: Muito interessante filme que combina o folclore de terror nacional com situações mais ou menos inesperadas, para criar uma película sinistra, que não fica atrás do que se pode fazer no estrangeiro, e que se sobreviver à trituradora da crítica pseudo-intelectual irá ficar na história do cinema português, por mérito próprio.

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One Response so far.

  1. Já que niguém deixa commnents, lá tenho que vir eu aqui. Esta critica também está publicada no site do Cinema Xunga. Corram lá, mas corram mesmo, e vaiem (como se diz na minha terra)ver as outras criticas. é um site muito interressante, e não tou a dizer isto só porque eles puzeram lá duas criticas minhas...

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