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Se há algo em mim que não compreendo é o facto de eu não gostar de palhaços mas algumas das minhas personagens de ficção favoritas o serem: Sweet Tooth, Captain Spaulding, qualquer versão do Joker, Pennywise de Tim Curry, a antiga mascote da Santa Casa e o João Baião são alguns dos palhaços que me tiram toda a atenção. E se há algo que me absorveu no capítulo 1 desta nova interpretação foi a performance de Bill Skarsgård

Sabia que não devia retirar o bookmark



It Chapter 2 é uma sequela curiosa. Na sua essência, é mais do mesmo. Tem o mesmo feel e os mesmos pontos positivos e negativos, ainda que de alguma forma potenciados. Portanto posso desde já adiantar que se gostaram do primeiro filme, irão gostar do segundo. No meu caso, gostei menos do segundo mas o suficiente para aguardar pelo inevitável pack de 2 filmes quando sair em Blu-ray.

 O que resultou acima de tudo no primeiro filme foi a quimica entre o elenco de jovens pré adolescentes. Todo o coming of age e a formação de laços entre o Clube dos Falhados foi o coração do filme. Ainda que a atração fosse o vilão carismático, este acabou por ser um bónus.

 Na sequela, já adultos, a quimica mantém-se graças a um elenco na maioria bem conseguido e, caso a saudade aperte, existem que baste inúmeros flashbacks de quando experiênciaram pela primeira vez o horror que é a puberdade. Estes flashbacks foram uma mistura de cenas cortadas do primeiro filme que aqui foram muito bem aproveitadas. Pelo menos uma cena nota-se que foi inevital gravar posteriormente pois vê-se pelo ator que faz de Georgie, aqui ainda algo fofo mas já a entrar naquela fase irritante em que os pais apercebem-se que se calhar ele ir e vir sozinho da escola é preferível do que estar mais um minuto a aturá-lo no carro. Houve uma cena cortada do primeiro filme sobre o Bar Mitzvah do Stan que eu achei fazer bastante falta pois era o desenvolvimento que faltava na personagem. Essa cena foi reaproveitada na sequela e, também aqui, acabou por ser crucial para o seu desenvolvimento. Em parte, todos estes flashbacks podem ser justificados por o livro também contar a narrativa salteando entre os miúdos e adultos, mas o verdadeiro motivo será certamente por a fase dos miúdos ser a melhor parte.

Este receio de não se atingir a expectativa é palpável no filme com as constantes referências sobre as obras do Bill em que toda a gente concorda que são muito boas mas os finais são sempre horríveis. Já o livro original escrito por Stephen King partilhava de uma forma de autocritica em Bill (também escritor), e o filme, tal como o livro, sofre de um final desapontante, ou mais especificamente, de uma luta final de deixar a desejar. Sendo justo, não sei realmente o que fazer para melhorar a batalha. É menos descabida que o desfecho do livro e partilha de regras semelhantes ao final do primeiro capítulo, mas é dificil sentir entusiasmo quando as personagens parecem inventar regras conforme a conveniência.

O que não resultou, com muita pena minha, foram os excessivos jump scares. Infelizmente, o segundo capítulo dobrou (se não triplicou) os sustos. Tudo o que acontece na sequela é um jump scare. Tudo. Além de irritante e altamente preguiçoso, torna-se muito prevísivel em pouco tempo, substituindo o medo genuino por truques baratos. 

Eu tinha esperança para este capítulo por dois motivos, potenciados pela qualidade do primeiro filme: as personagens são adultas, logo, como as assustar, especialmente depois de tudo o que já passaram? A resposta foi trazer de volta alguns medos e outros que nunca foram mencionados anteriormente, parecendo escolhas aleatórias que simplesmente abraçam o folklore do que é tipicamente assustador. De onde veio o medo de velhas da Beverly? Não deveria ser o medo vindo de um monstro abusivo?

A razão principal da minha esperança, contudo, prendeu-se ao primeiro trailer, ou, na verdade, à primeira metade. Toda a cena da velhota está bem conseguida, sendo desconcertante e eventualmente aterradora. No filme torna-se um bocado parvo quando vemos o que está realmente a perseguir a Jessica Chastain mas safou-se pelo suspense bem conseguido. E era precisamente isto que eu queria mais do filme: o sentimento de nervos pela falta de conforto. Onde o filme é mais aterrador é quando mostra os habitantes de Derry. Tanto o 1 como o 2 têm, possívelmente, os melhores bullies que já vi. Não só são realistas num conceito que por norma é traduzido de forma cartonesca como todo o medo que causam é perfeitamente credível. Henry Bowers causa tensão sempre que aparece e não é preciso nenhum som repentino com decibéis aumentados. Da mesma forma que toda a restante população é mais horrível do que os meus vizinhos. São todos horripilantes, desconcertantes e nojentos. E as personagens do filme também.

Era mais deste desconforto e nervosismo que eu gostava de ver, algo que o tele-filme com o Tim Curry fez melhor, no geral.  Não necessáriamente subtil mas genuíno e merecido. Ainda assim aplaudo a cena do restaurante asiático, especialmente no que toca ao primeiro biscoito pois fez-me querer sair da sala o que, por uma vez, é um elogio ao filme.

A juntar aos jump scares estão as luzes citilantes e o uso exagerado das mesmas. Este filme consegue ser um perigo para quem tem epilepsia e eu próprio questionei-me se me estava a sentir bem. Mas mais do que má disposíção, foi um sentimento de irritação. Nada disto era necessário e só faz do filme um conjunto de clichés de filmes de terror.

Estou a ser muito negativo, mas a verdade é que mesmo assim gostei e pretendo rever. Apesar dos defeitos de direção, o charme e carisma das personagens realça a vontade de continuar a ver. E embora eu tenha lido muitas queixas sobre o tamanho do filme (que é grande), pessoalmente passou rápido para mim e até fiquei algo surpreendido com o que acabou por me parecer um final abrupto (o que não é bom sinal). Achei definitivamente que podiam ser cortadas muitas cenas. Em concreto, refiro-me à primeira cena do filme e a tudo o que envolve o Henry Bowers. São cenas muito bem conseguidas e excelentemente interpretadas, mas acabam por ser dispensáveis e irrelevantes para a história que está a ser contada. Preferia que fossem cortadas para maior exploração do que as personagens são antes e após o telefonema de Mike, pois são cenas que dizem muito. A única cena com maior ênfase é o casamento da Beverly, que funciona que baste mas não faz juz à descrição do livro. E por falar no livro, um dos meus momentos favoritos é o momento em que o Ben vai a um bar e põe gotas de limão nos olhos. Na minha opinião, é a cena que fez falta para esta personagem.

O maior sucesso da sequela está em conseguir pela segunda vez um elenco escolhido em cheio. Particularmente o Eddie e o Stan estão parecidissimos fisicamente, mas o que vende são mesmo as atuações à excepção de quem faz de Ben pois não havia muito mais para fazer (mas está claramente igual ao miudo, ninguém dúvida). Pela primeira vez gosto do Bill Hader e é o que traz não só mais carisma mas como mais coração ao filme. Tudo o que lhe têm valorizado é merecido, mas considero que quem faz da versão adulta de Eddie Kaspbrak, James Ransone, tem o melhor trabalho. É possível reconhecer os maneirismos da personagem infantil e acerta em cheio em tudo o que a versão adulta deveria ser.

Eu não deixo de recomendar o visionamente do IT: Capítulo 2. O filme em si é bastante divertido tal como o primeiro e, repetindo-me, se gostaram do primeiro deverão gostar deste. Apenas desilude por poder ser muito mais. O talento está definitivamente lá mas a direção não foi a que eu desejava.

Resulta como filme de terror e, batalha final à parte, o final fecha de forma satisfatória a história contada em dois filmes, podendo estes serem vistos de forma seguida pois estão bem um para o outro. Para crédito do filme, não foi tempo que me tenha custado a passar. Nada no filme é incompetente (o CGI realmente podia ser melhor mas isso já vem do primeiro, sendo que se nota bem devido à maquilhagem soberba de Pennywise), talvez por se deixar abraçar pelo amor notório não só à obra como ao autor (são inúmeras as referências aos seus trabalhos). Apenas desilude por poder ser algo mais por ter todas as peças certas.

Continuam, contudo, a ser dos melhores filmes de terror da década (pelo menos num Top 100, vá), e o Pennywise de Bill Skarsgård será certamente recordado.

Para o bem e para o mal







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