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Na Foto: Elton John a cantar The Nightmare Before Christmas. Cortesia de Tim Burton.


Já nem sei como é que se escreve. Acho que entrei na minha conta?

Quero começar esta crítica ao filme Rocketman respondendo desde já às três perguntas que muitos fizeram depois dos trailers:

- Como é que este filme faz ligação com o Universo Cinematográfico da Marvel?

R: Há uma cena em que eles fazem referência aos acordos de Sokovia, quando o Elton apanha o seu manager a ser "entrevistado"ao pé da piscina.

- Em que altura do filme devo ir à casa-de-banho?

R: Quando der a vontade.

- Existe alguma cena em que o Elton se transforma num foguete?

R: Sim.

 A cena em que o Elton John descola como um foguete é um bom resumo não só da sua carreira como do filme em si. É algo muito esperado. "É claro que vão fazer isso". E todo o filme é prevísivel nesse aspecto, não só pela característica de se tratar de uma biografia de um artista que a Fnac irá delirar para fazer uma campanha póstuma como, e sendo mais problemático, a sua execução bate todas as notas deste tipo de filme. A única surpresa aqui, e certamente irá fazer com que algumas pessoas se levantem da cadeira para pedir o reembolso, está no facto de o filme ser mais musical do que se espera. Quero dizer que além de o Elton cantar no piano em casa e de gravar num estúdio, também a sua família participa no acto. Todas as personagens começam a cantar excertos das suas músicas emblemáticas e, quando menos esperamos, estamos agora a ver todo um número musical coberto de figurantes, quando ainda nem há 5 minutos estavamos a ver as personagens a ligar para a NOS porque a SportTV estava sem sinal. Podemos nunca vir a saber se conseguiram acabar de ver a Seleção Sub-21 porque a meio do músical saltaram a infância toda.

Dito isto, apesar de ser bastante seguro, o filme eleva-se por ter bastante orgulho em si próprio. Nota-se que o Elton John é amado neste filme, sendo também esse o tema principal, o quão ele é ou não amado. Desde o primeiro frame em que vemos o seu vulto extravagante que percebemos que o realizador está ansioso para contar esta história. Dando crédito onde ele é merecido, apesar de também o início não ser nada de novo, consegue introduzir como que por imediato a personagem e tudo o que precisamos de saber para gostar dele. O filme nunca se afasta de o mais interessante ser o Elton, estando ele sempre presente em quase todos os planos e, quando não o vemos, sentimos sempre a sua presença. Esta é elevada pela performance brilhante de... pera aí que eu tenho de ver o nome no Google. Eu sei quem é o actor mas é a primeira vez que falo dele porque não vi o Kingsman. Só um segundo por favor...

Taron Egerton. Credo, é isso. Eu sabia que era uma personagem do Game of Thrones.

Raramente pensei que estava a ver o actor. Embora a maquilhagem convença muito bem, o que realmente vendeu foi a sua actuação, que merece no mínimo um prémio Sophia.

Embora ele seja o óbvio destaque, todo o elenco está bom à excepção da Bryce Dallas Howard. Não sei em que filme ela estava, mas não era o mesmo, e isso tornava-se cada vez mais evidente quando depois de vermos a sua actuação bizarra passávamos para o marido e para a mãe e percebiamos o que era actuar a sério. O contraste da qualidade foi tão chocante que ela, sozinha, quase conseguiu com sucesso afundar o filme para mim. Por norma simpatizo com a Bryce, especialmente naquele episódio do Black Mirror em que ela faz com que o Markl fale mal de um filme (é uma série de sci-fi), mas aqui ela estava numa novela da SIC dos anos 2000. Horrível.

O outro ponto que quase tornou o filme, para mim, mediocre, foi o final. Tal como tudo o que ocorreu anteriormente, não foi nada de novo, sendo talvez o cúmulo dos clichés. Contudo, este safa-se com uma cena que, apesar de também ser cliché e ser uma mensagem absurdamente directa, acaba por ligar-se ao início do filme e finalizar o arco da personagem num tom minimamente artístico, deixando-me satisfeito que baste. Nada por aí além, um final pensado por qualquer estudante de cinema (eu próprio escrevi um guião baseado no mesmo conceito), mas que acaba por satisfazer mesmo que, mais uma vez, seja muito seguro.

Em semelhança, todos os conflitos e ideologias do filme são absurdamente óbvios. Não há margem para se pensar em qualquer significado, é exactamente aquilo que parece e sei disso porque as personagens dizem muito literalmente qual a mensagem da cena em que estão. Ainda assim, as mensagens são boas o suficiente para fonte de inspiração e algumas até carregam o filme todo.

Devo confessar que embora eu sempre tenha gostado do Elton John, eu não o ouvia. Nunca tive nenhuma das suas faixas no meio da minha lista de música para jogging em Chelas, e pouco sabia sobre a sua vida além dos pormenores mais mediáticos ou das histórias que o Herman conta. Nesse aspecto, não sei se houve alguma escolha polémica para os fãs, mas conseguiu fazer de mim um deles, não só pela qualidade das músicas mas pela forma como me foram vendidas pelo... Terion... Te... opá o nome dele está lá em cima.

Apesar de eu sublinhar muito o quão o filme é seguro, devo referenciar o que quero dizer quando digo que tem orgulho da pessoa que retrata. A história toca em todos os pontos importantes, desde a sua homossexualidade e como os pais foram seres horríveis, ao uso e abuso de drogas e de manipulação sexual que sofreu toda a vida. Nunca chega a entrar pelo caminho sombrio, talvez com receio de quebrar o ritmo consistentemente frenético, mas bate o suficiente nestes pontos que caracterizaram a quase-destruição da pessoa. A única excepção será um dos casamentos que, embora mais uma vez seja óbvio a mensagem que quer passar, descarta sem a merecida exploração sobre o impacto que teve na sua vida.

Mesmo com os meus problemas reportados, principalmente no que toca à Bryce Dallas Howard que está aqui mais detestável do que no Spider-man 3 (o problema não é ser uma personagem que odiamos. O marido é completamente desprezível sem uma amostra de afecto, contudo tem a segunda melhor actuação), o filme tem sucesso na sua missão mais importante: a celebração da vida do Elton John, com todos os pontos negros. Saímos da sessão a sentir que sabemos tudo o que é preciso para compreender o percurso da carreira e quem é realmente este artista. E embora todas as situações que o caracterizam sejam tratadas de um modo embelezado ao estilo de video-clip, eu aceito por ser a pessoa que é. Faz todo o sentido a forma como a história é tratada, sendo o meu momento favorito quando é levado para o hospital para ser limpo da overdose. O momento é caracterizado por um músical digno da Broadway e do Casino do Estoril, mas aqui é elevado acima por tratar o que foram as portas da morte com beldade.

Rocketman é um filme que mostra dedicação não só à carreira como ao sofrimento do artista, sendo dada a enfâse, de forma acertada, ao lado negro da sua vida. Ainda que lhe falte o conceito subtil de narrativa, faz tudo o que é necessário para percebermos porque é que a personagem (e individuo real) chegou onde chegou, para o bem e para o mal. Por isto comento que é o mais próximo que teremos à versão do Bohemian Rhapsody pelo Sasha Baron Cohen, sendo que, naturalmente, não é tão bom como poderia ser mas é uma tentativa que merece melhor o nosso tempo do que o próprio Bohemian Rhapsody.

Recomendado para fãs do Elton John, recomendado para quem não se importaria de se tornar fã e recomendado para quem quer dizer que viu pelo menos um dos filmes nomeados nos Oscars.


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