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Em 2005 ao sair da sala de cinema da sessão do capítulo "Revenge of the Sith" desatei numa fúria dactilográfica que dividi em dois textos, um resumo do filme repleto de spoilers e uma crítica mais ou menos composta. Mas isso foi há dez anos e os apêndices digitais já não têm o vigor de outrora. Ainda para mais, a ligeira dor de cabeça causada pelos óculos 3D ainda não se desvaneceu.
Não tive tempo para rever os seis episódios anteriores, mas acho que já vi as duas trilogias vezes suficientes para me recordar do essencial... Creio que o filme que vi mais vezes na vida foi o "Episódio IV". Sim, mais ainda que o "Titanic".
É difícil falar sobre o filme, ou até fazer uma sinopse, sem revelar demasiado, por isso se não viram  fita é melhor pararem por agora, montarem no burro (ou Metro, não sei onde vocês moram...) e apressarem-se ao cinema mais próximo...
SPOILERS ALERT SPOILERS ALERT SPOILERS ALERT SPOILERS ALERT

Sei que vou gostar mais do filme ao revê-lo em 2D. Não me dou bem com 3D, gosto de ser eu a decidir em que parte do frame vou focar os olhos. Há alguns momentos mais serenos que realmente o 3D quase faz parecer estar a espreitar por uma janela, mas prefiro a imagem plana. Chamem-me oldschool...
Doí um pouco ver os dróides C3PO (Anthony Daniels) e R2D2 quase reduzidos a cameos. Mas, o filme homenageia o passado enquanto simultaneamente abre novas estradas para o futuro da saga. A narrativa está reduzida ao essencial, sem desvios inúteis. Todas as cenas são relevantes, mas sem um excesso de foreboding ou coincidências milagrosas - que quando existem podem facilmente interpretados como a acção da Força.
Decerto já leram dezenas de vezes o termo "jornada do herói" associado à saga Star Wars. Se quiserem parecer mais cultos é só atirarem umas citações de Joseph Campell sobre mitologia e a influência nas criações de George Lucas. E falando no Dalai Lama da franquia, felizmente continuou na reforma. O seu substituto neste capítulo, J.J. Abrams, já várias vezes deu provas de competências nos pontos mais fracos de Lucas, nomeadamente na direcção de actores. Abrams consegue - geralmente - criar blockbusters com alma mas sem perder o sentido de espectáculo. Voltando à expressão "jornada do herói", nesta entrega temos dois novos heróis, Rey (Daisy Ridley, com algumas aparições em séries britânicas, e que tem uma vivacidade impressionante ) e Finn (John Boyega, que já teve experiência com extraterrestres em "Attack The Block"), à procura do seu caminho que inevitavelmente se interliga. Apesar de ficar claro que o protagonismo pertence a Rey, Finn não é relegado para comic relief. Para isso temos a adorável droid BB-8. Aliás, é a decisão de Finn contrariar a doutrinação, abandonar a First Order - o movimento militar e político "nascido das cinzas do Império" - e fugir com um prisioneiro que coloca todo o plot em andamento. A partir dai é uma corrida alucinante para fazer chegar a informação escondida pelo prisioneiro - supostamente o maior piloto da galáxia - Poe Dameron (Oscar Isaac, o Apocalypse do próximo filme dos X-Men) - ás mãos da Resistência - inspirada pela antiga Aliança Rebelde que restaurou a República - , lutando para fugir à implacável First Order e à sua rede de informadores e oportunistas. Este MacGuffin, a informação tão valiosa para heróis e vilões é a localização do esconderijo de Luke Skywalker.
E falando em vilões, entre o Episódio VI e VII andaram entretidos a construir uma estação espacial ainda maior que a Estrela da Morte, capaz de destruir sistemas planetários: a Base Starkiller (uma pequena homenagem aos primeiros argumentos da Star Wars original, em que Luke Skywalker era ainda chamado Luke Starkiller). As caras do mal são o mascarado Kylo Ren (Adam Driver, actor de filmes independentes), a imponente Capitã Phasma (de quem esperamos ver mais nas sequelas, interpretada por Gwendoline Christie, a Brienne of Tarth de "Game of Thrones"); o nazi lookalike General Hux (Domhnall Gleeson, o Bill Weasley da saga Harry Potter) e o Líder Supremo Snoke (encarnado pelo maior especialista mundial em interpretar personagens virtuais: Andy Serkis, o eterno Gollum) que só surge na forma de holograma.
Quando Kylo Ren retira a máscara consegue ser ainda mais assustador, não por cicatrizes físicas - o rapaz também não é lá muito jeitoso - mas pela clara falta de controlo e a batalha ente o Lado Negro e Luminoso da Força. Nunca - pelo menos num blockbuster familiar - a leitura de mentes pareceu tanto uma violação como nos interrogatórios que Kylo faz a Poe e Rey. Kylo Ren foi aprendiz de Luke Skywalker mas entregou-se ao lado negro, influenciado por Snoke. Skywalker abandonou a intenção de reconstruir os Jedi e tornou-se um fugitivo procurado sem descanso pela First Order. O vilão do primeiro Star Wars, Darth Vader, é a maior inspiração para Kylo Ren, o seu neto. Essa obsessão em destruir o ultimo Jedi e conquistar a Galáxia causou a separação dos seus pais, Han Solo (Harrison Ford) e Leia Organa/Skywaker (Carrie Fisher. Antes Princesa, agora General da Resistência). Solo e o seu inseparável companheiro Chewbacca (Peter Mayhew, conhecido por interpretar...Chewbacca?) voltaram ao contrabando e negociata com indivíduos pouco recomendáveis, mas vão ser essenciais ao ajudar Finn e Rey a entregar a informação à Resistência. Em imensas imagens temos visto Finn a empunhar o velho lightsaber que Luke perdeu na Cloud City quando Darth Vader lhe cortou a mão, mas no decorrer da película fica claro que é Rey que vai gradualmente desenvolver a sua sensibilidade à Força.
Apesar dos imensos trailers e anúncios de tv, o espectador ainda conseguiu ser surpreendido com a forma que os personagens se iam relacionar e fazer avançar o plot. Não há muito a dizer que já não tenha sido escrito bem antes da estreia, como o respeito pela trilogia original, e além dos efeitos especiais digitais state-of-art é de louvar o regresso aos efeitos práticos que Abrams implementou na produção do filme, relegando o green screen para quando necessário. Outro elemento base da saga é a banda sonora do mestre John Williams, que obviamente marcou presença, revisitando os velhos temas, ainda fortes passadas quase quatro décadas, mas infelizmente - pelo menos à primeira audição - sem um novo tema de destaque. Só lamento não ter havido mais cenas no espaço profundo. Curiosamente, num filme sobre guerras espaciais, o que me parece menos conseguido é a batalha final - não no espaço mas na superfície do planeta - entre as naves da Resistência e da First Order; apesar do entusiasmo e carisma de Oscar Isaac. Mas nessa altura da metragem o destaque foi para o elemento humano, em que Han Solo abandona a missão de sabotagem da arma da First Order para tentar recuperar o filho. O que não corre bem, no momento mais chocante de todo o filme, que imagino causou milhões de fanboys quarentões a verter lágrimas. Claro que isso é coisa que não me assiste. Nem na sequência final, que é simultâneamente climática e anti-climática e parece apontar a direcção do próximo Episódio VIII. Ainda há alguns elementos dúbios que espero esclarecer em próximos visionamentos...
Concluindo, este é uma grande nova adição à saga, um belo e emocionante filme por si só, superior às prequelas em muitos aspectos. E apesar de não ter embarcado no comboio dos espectadores que lhes dão 10 estrelas e gritam por perfeição; considero que é um filme absolutamente recomendável, recheado de momentos deliciosos, para fãs e mesmo para iniciados nos mistérios da Saga que aconteceu há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante...

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