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 Infelizmente não é esse tipo de história que vos venho contar.

 A não ser que queiram muito.

 O David deu-me mais duas sacas de arroz do que costume (é, ultimamente anda muito bonzinho. Claramente quer tirar-me o lugar para a nova estagiária) com a missão de internacionalizar o CINE31 pela Europa. Inteligente como sou, decidi começar pelos calores da Dinamarca, onde o meu suor diário é deveras farto.

 Não se alarmem, pois eu vim preparado.




 Como devem imaginar, até me instalar como deve ser no novo polo do CINE31, não tenho tempo nem para ter comichões, quanto mais coçar-me. O cinema para mim tem sido uma experiência muito escassa. Tive a minha dose em Outubro onde vi uma quantidade valente tanto deste ano como do anterior (adorei o teu trabalho, Wes), mas foi tudo graças ao videoclube. Não percebo porque é que a Blockbuster encerrou quando ainda há uma clara demanda por aluguers. Enfim. 

 Entretanto chegámos a Dezembro e os meus companheiros (longa história) debatiam sobre a curta independente, Star Wars: O Despertar do Merchandise, onde admiti não poder ir ver por ser uma experiência demasiado cara para as minhas prioridades. Não me lembro do valor correcto, mas é acima dos 10€ por bilhete. Isto se quisermos ver no antiquado formato 2D. Maneiras que o plano era aguardar pelo aluguer. Neste caso literalmente (antes também, atenção), pois pode-se alugar filmes de borla na biblioteca local.

 E não é que, mais tarde, fui surpreendido com uma prenda de Natal? Um pacote que equivale a 2 bilhetes mais dois baldes de pipocas mais duas bebidas?

Digam o que quiserem do aspecto deles, mas têm coração!
 E assim, peguei na minha mulher e levei-a ao cinema para, afinal, vermos o novo Star Wars. Entretanto tive que a pousar pois as minhas costas não são o mesmo de há uns anos.

Eu tinha recebido um conselho prévio: Tenta chegar antes de faltarem 30 minutos se não queres pagar um extra. Chegámos ao balcão de atendimento e a primeira pergunta foi se tinhamos reserva. Tivemos sorte, pois havia um número decente de lugares disponíveis. Escolhi os melhores lugares que haviam na segunda fila da frente que equivale ao IMAX dos pobres. Fui, no entanto, informado que o meu "vale" só servia para filmes até 2 horas. Infelizmente o Star Wars tem créditos que duram 10 minutos e mais 5 minutos para a cena extra em que o Kylo Ren é visitado pelo Nick Fury, pelo que por 15 minutos a mais tive que pagar 20 Kr por bilhete. Continuou a ser incrívelmente barato, no entanto.

 A senhora era simpática.

Subimos umas escadas e temos que mostrar logo os bilhetes.

O senhor era simpático.

Aqui, estamos dentro de todo um lobby exclusivo. Senti-me nos Maias, mas com menos incesto. O espaço estava cheio e a única zona onde podiamos caminhar era à frente das televisões onde havia quem estivesse a jogar o Battlefront na PS4 enquanto aguardava pela sessão. Visto que foi depois do Natal, certamente havia quem já tivesse visto o filme, pelo que era uma zona de risco de spoilers. Felizmente, eu só sei dizer "Grátis"* em dinamarquês, por isso não percebi nada.

Era então altura de nos metermos na fila para as pipocas e bebidas. Funciona um pouco como o IKEA. Quando a fila avança o suficiente, é hora de pegarmos no copo com a dose certa do vale e encher com a bebida predilecta. Aguarda-se um pouco pela oportunidade de dar mais dois passos e estamos numa vitrine com baldes de pipocas. É só pegar na medida certa e retirar o balde. Mete-se tudo no balcão e cantamos:

"Não pagamos!
Não pagamos!
Não pagamos, não pagamos!"

E podemos sair dali.

A moça não era muito simpática.

"First, they take our jobs, then, they take our popcorn!"
E está na hora de irmos então para a sala.

Nós fomos para a sala onde estava o Star Wars, mas podiamos ter ido para um filme qualquer pois aparentemente ninguém volta a certificar os bilhetes, dando até a oportunidade de sair e ver outro. O nível de confiança que os Dinamarqueses depositam é de louvar. Sei que em alguns cinema portugueses é possível fazer o mesmo mas tomara nós saírmos daquele inferno de adolescentes quanto mais entrar noutra sala.

A sala é bastante acolhedora, tendo um aspecto premium sem o ser (dependendo do ponto de vista pois os bilhetes são mesmo caros). Ao invés de tudo em preto, é tudo em vermelho, tipo a carpete dos Globos de Ouro da Sic antes dos pombos a encherem de merda. Depois de encontrarmos os nossos lugares numa ordem que é tudo menos numérica, sentamo-nos e sentimos um relaxamento na espinha. "São confortáveis querida... conseguimos! Já não estamos naqueles bancos do Monumental. São confortáveis! Eia, eia!", exclamei baixinho, emocionado. Baixinho porque não queria interromper a distração da malta para o que tava no ecrã. Enquanto que em Portugal vemos trivia do IMDb com mais de 5 meses disfarçado de notícias antes da chegada dos trailers, aqui joga-se lotaria. Não no formato da Marisa Cruz mas num video jogo à base de SMS. "Que horror!" - pensei - "A Jamba! voltou!"

É hora de provar as pipocas. Um pormenor interessante é que na secção do IKEA não havia forma de saber se eram doces ou salgadas. A minha mulher prefere pipocas doces, eu prefiro não comer pipocas porque detesto incomodar (não faças o que não gostas que façam a ti) mas se tenho que comer, pois que sejam salgadas. E vai-se a ver e ganhei. Mais tarde perguntei a um amigo dinamarquês sobre isso e confirmou-me que aqui, no geral, só se come pipocas salgadas. Não param de me surpreender!

PAREM DE ME CONQUISTAR!

Começo a desligar o telemóvel e faço aquele esforço de o meter no bolço das calças de ganga apertadas. É aqui que, sem querer, descubro que o banco é inclinável. Brilhante! Não deixa de haver espaço suficiente para se estar confortável. Os apoios são almofadados como todo o banco parecendo um colchão de espuma. Em momento algum durante o filme me ajeitei. A zona própria para segurar as bebidas também estava afastada o suficiente de forma a impedir que a minha mão se enfiasse por lá à procura desesperadamente por conforto onde não existe. Tudo cinco estrelas.

A publicidade começa e é uma brisa fresca para a minha cabeça. Não percebo nada do que dizem nem sem quem é aquela gente. Finalmente, publicidade que não me irrita! Quase que dá para dormir sem incómodo. Por outro lado, tenho saudades da publicidade 3D da Vodafone que resulta melhor que qualquer filme em 3D que passe a seguir. Os trailers aparecem e começo a lidar com a experiência de ter legendas em dinamarquês. Felizmente tenho muita prática em ver filmes alugados com legendas asiáticas nas caras dos actores, pelo que não me incomodou. Nisto surge um trailer de um filme dinamarquês onde eu desejava que tivesse legendas. Mesmo assim, conseguiu o meu interesse sem eu perceber nada e não deixa de ser mais agradável do que ver o trailer do Leão da Estrela Redux.

E, então, o filme começa.

Não vou falar neste artigo o que achei sobre o filme (basicamente gostei mas podia ser melhor... e isto não se aplica a mais filme nenhum), mas não posso deixar de mencionar a magia que é ver o título e a icónia música a acompanhar, em pleno cinema. É a primeira vez que experiêncio isto. Aproveito para dizer que a minha mulher está grávida (ah é verdade), pelo que é também a primeira banda sonora do meu filho. Ou filha. Logo se vê. A minha mulher nunca viu um Star Wars antes e, para primeiro, gostou. Pelo que, mesmo que o filme pudesse ser melhor, acabou por marcar um significado especial para a nossa família. Fosse daqui a uns meses e teria sido a ver o Batman e a ouvir-se Hans Zimmer, mas a Natureza trabalha em formas misteriosas.

Durante o filme, as legendas acabaram por me distrair um pouco. Não que eu estivesse a tentar ler mas não pude deixar de reparar periféricamente a constante palavra dinamarquesa "fart". Confuso, no mínimo.

Um último detalhe sobre a sessão em si... adorei os dinamarqueses. Parecia um visionamento de imprensa mas cheio. Quero com isto dizer, ninguém falou durante o filme, ninguém tirou selfies, ninguém se levantou constantemente, nem houve intervalo. Foi perfeito. Toma nota Portugal, é assim um país desenvolvido. Depois disto não sei como voltar a ver um filme no meu país junto de animais soltos. Ficarei mal habituado.

No final do filme, acendem as luzes para a saída. Lá vamos nós e qual não é o nosso espanto quando estamos directamente no parque de estacionamento. Uma saída destas é extremamente útil para aquelas sessões da meia noite. É ver o filme e meter-nos logo no carro. 

E foi assim a minha primeira ida ao cinema na Dinamarca. Uma experiência a repetir-se, moderadamente. Mais do que termos gostado do filme, gostámos da nossa ida em sí. E lá fomos nós, ao... calor... para a nossa casa, depois de uma matiné como antigamente. De mão dada, a debater as crises familiares em galáxias muito, muito distantes...


Fin(n)



*Diz-se assim: Gratis

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