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 Nolan no espaço.

 Dava uma bela t-shirt.





 Interstellar é o filme mais ambicioso do Nolan até agora e sendo o homem responsável por Inception, é uma frase e tanto. Não é segredo para ninguém que Nolan é dos realizadores mais estimados pela critica. Além de em apenas 5 anos ter mudado a indústria (para o bem e para o mal) o que vindo de um fulano relativamente desconhecido é impressionante, os seus filmes nunca causam indiferença. Não vamos apenas ver um filme, vamos ver um Nolan. É uma benção e uma maldição pois todas as suas obras são envolvidas numa nuvem de hype como só se vê, actualmente, com os Avengers. Mas se já existem críticas negativas e fortes cépticos à Grandiosa Arte do Visionário Nolan, então Interstellar irá pôr à prova o seu talento, talvez mais que outro filme, agora fora das infames correntes dos super-heróis. Este é o filme que poderá dividir o público pois mesmo tendo imensas surpresas e truques que nunca vimos em blockbusters, tem todos os clichés do próprio Senhor que nos deu este 11º mandamento à Terra. Com críticas abaixo do costume para Nolan, e sem ninguém saber como será este filme aceite pela audiência, as perguntas são:

- O filme é bom, ó Bruno?
- Farás uma crítica sem dizer que o filme é Alright, Alright?
- Conseguirás pôr o teu fanboyismo de parte para eu ler sem revirar os olhos constantemente?

 Ora, não posso prometer quanto aos vossos olhos e lá se vai a pergunta do meio também. Resta a primeira.


 E sim.

O filme é bom.


O filme é muito bom.


Mas não é perfeito.

Desculpa Amor.
Não és tu, sou eu.


 A história, sem ser spoiler, é mais ou menos assim:
"Certo dia, Matthew McConaughey diz para o fantástico Jon Lithgow:
- Epá eu tou a subir na carreira maneiras que era giro eu subir de uma vez para o céu e tal.
- Mas o Clooney fez isso ainda o ano passado. Não será um pouco redundante tarmos já a levar outra vez com mais celebridades no espaço em apuros e não sei quê?
- Então olha, em vez de andarmos às voltinhas ao pé da Terra, vamos dar voltinhas pelo espaço através de coisas bonitas e cenas assim.
- Mas isso não seria altamente improvável?
- Epá dizemos que 'ah não sei quê, vocês não sabem porque nunca lá estiveram, de maneiras que isto pode ser assim como estamos a dizer'.
- Está bem mas não sei se vai ser muito bem aceite. Pões-te com merdas maradas, ainda por cima no espaço, e os gajos começam logo a deixar comentários desagradáveis no Wareztuga. Tudo o que tiver mais de 15 segundos sem diálogo ou explosões é o suficiente para se sentirem perdidos no filme. Já leste os comentários na página do 'Koyaanisqatsi'. Credo, quase que dizem tudo o que eu acho sobre o futebol.
- Eu sei, eu tenh
- E se não tiver carros rápidos com gajas boas também não devem dizer 'Um filmaço! 10/10! Obrigado equipa Warez, que venha de lá o 8!'
- Pois. É assim, carros, eu não sei se consigo meter lá algum Lincoln, tenho que falar com os gajos primeiro. Mas gajas boas... eu penso que a Anne Hathaway conta. Mas como eu tava a di
- Anne Hathaway?.. Eh, pode resultar. Ela aparece numa roupa preta ajustada?
- Ajustada não prometo. Posso pô-la numa roupa preta nem que seja ao início, sim. Mas digamos que deve passar o filme todo num fato de astronauta. Visto que é para estarmos no espaço e essas cenas. Mas olh
- Então não sei. Não tem carros altamente, não tem gajas boas, não tem história que seja simples e que o twist seja aparecer um gajo conhecido ou aquele que apareceu no 3 e que na altura ninguém gostava dele. Olha Matty..
- Matthew.
- ...tens que perceber que já não estás nos anos 70. Estás a lidar com malta que diz que não vê a Casa dos Segredos mas aparece sempre no meu mural que comentou na página oficial que o Alberto foi arrogante para a Liliana quando recusou lavar a louça. Se não fores tu a pôr no prato e aquecer no microondas esta malta não quer saber pá.
- Temos o Christopher Nolan.
- Não, é que depoi....espera, o Nolan?
- Yep.
- Estás a dizer que o filme vai ter toneladas de diálogos com exposição de enredo e nas alturas mais complicadas haverá uma personagem secundária a questionar a personagem principal de forma a que esta explique o que está e/ou o que estará prestes a acontecer de forma a estender a mão à audiência para atravessarem a estrada?
- Nem mais.
- A explicar tudo sem deixar muita coisa à interpretação de cada um como se fosse um resumo dos Maias que se encontra facilmente na internet para nos ajudar no teste e esfregarmos a boa nota na cara dos outros mesmo que depois se nos pedirem para desenvolvermos o nosso pensamento não saibamos responder mais do que duas linhas?
- Sim, já percebi! Porra! Pareces..
- O Nolan?
- ..."

 A nível de história, de facto, concordo até certo ponto com as críticas feitas. Não é nada de outro mundo (desculpem por esta) mas é competente. O final é um pouco desleixado e a certo ponto esperado, talvez desde o segundo acto, mas faz o seu trabalho. Atenção, não é que a história seja má, pelo contrário, é boa, mas podia ser melhor executada tanto a nível de escrita como pela própria realização. Não estraga completamente a experiência e como digo, o filme é bom, simplesmente não alcança o potencial de ser algo mais.

 Enquanto que a história não surpreende por completo, as actuações sim. Foram vários os momentos que quase me fizeram chorar. São momentos genuínos e com performances fantásticas. De forma a evitar possíveis spoilers, não vou mencionar quem está presente nestas cenas dramáticas mas posso dar os parabéns a todo o elenco (bem, há aqueles que estão lá só para serem peças da história mas percebem o que quero dizer). Mas vou sim destacar um actor.

Matthew McConaughey


 Como é que este gajo passa dos actores que mais detesto ver para as minhas personalidades favoritas sem eu dar por isso? Renaissance indeed. Ele acenta que nem uma luva no papel. Os maneirismos por vezes irritam um pouco por não parecer enquadrarem muito bem com a cena mas não me posso queixar. Se vamos ter um filme de 3 horas carregado de diálogo sobre ciência, que seja dito por um gajo cheio de carisma. Manuseia muito bem o fazer rir e chorar quando é preciso e embora não seja nem de perto o melhor que ele já fez, não deixa de ser uma performance fantástica com destaque para uma cena merecedora de um Oscar. Não que ganhar um Oscar hoje em dia seja grande significado mas merece nem que seja aplausos.



 Se me permitem, eu vou ter que trazer o The Dark Knight Rises para aqui. Eu sei, é cliché da minha parte mas tem de ser, vá.

 The Dark Knight Rises há-de ser o pior filme do Nolan. Tomara a muitos poderem dizer que é esse o seu pior filme. Eu, como sabem (e seria de esperar), adoro o filme mas sei admitir que está cheio de problemas. Acredito que o que tem de bom, no fim, acaba por ultrapassar tudo e será isso que irei relembrar. Não que eu precise de me relembrar pois revejo o filme 500 vezes por ano mas quero dizer que apesar dos defeitos (cortes "à despacha", inconsistência de edição, câmaras IMAX a intrometerem-se no filme, plot-holes e conveniências no enredo) eu consigo encontrar mais do que suficiente para adorar.

 Posso dizer que, felizmente, Interstellar é do mais polido que o Nolan já fez. Não é perfeito, mas por lá..orbita...




 O filme foi editado com mais cuidado, possívelmente por ter uma pós-produção mais exigente. Há cenas mais filmadas à guerrilha mas no geral foi tudo muito melhor pensado que no Rises, chegando a haver elegância na edição. Vejam a cena da descolagem e percebem o que quero dizer. Há toda uma nuance que embora óbvia, deixa espaço para interpretação. Uma das minhas cenas favoritas do filme. Infelizmente o filme explica mais do que devia à lá Inception, o que acentua que o único problema do filme reside no guião. Quem é o culpado de estrag..


Shit. Bem, a culpa só pode ser do Jonathan.




 Vi em IMAX e há cenas de fazer o queixo desaparecer. Não faz cair, não, faz desaparecer por completo. Por momentos estamos sem queixo na sala de cinema. Por mais metafórico que isso pareça, a verdade é que são segundos em que ficamos com as pipocas na mão em frente aos lábios e sem nos lembrarmos do que estávamos prestes a fazer com elas. Tudo tem textura, tudo o que em outros filmes não passaria de uma casca oca, parece palpável aqui. É o poder dos efeitos práticos que Nolan nos habituou. Continua a puxar os limites daquilo que um homem sensato nos dias de hoje faria em CGI. Há, obviamente, coisas impossíveis de se fazer mas que me caia um raio na cabeça neste preciso momento se ele não arrisca e faz o impensável. Tudo bem que estou a escrever no quarto e acima está o sótão mas daqui a pouco quando eu for ao Pingo Doce comprar fettuccine para o jantar que me caia então o tal raio.



 Mas não é só as imagens que são fantásticas, aliás, nem são o mais impressionante em IMAX. O que faz valer a pena o preço é o som. Imaginem aquelas cadeiras do cinema 4D que oscilam para todos os lados... agora imaginem isso mas sem qualquer tipo de motor. A imersão é fantástica e se há filme que vos justifique o preço acrescido (neste caso, 10€ por bilhete) é este. Mas de qualquer maneira, é um filme para ser visto no cinema. Não saquem. O filme aguenta-se muito bem onde quer que o vejam mas foi claramente pensado com o cinema em mente. É uma das provas que o 3D não é assim tão necessário para criar imersão. É divertido, sem dúvida, mas um filme bem feito consegue o mesmo efeito sem nós nos apercebermos e honestamente é aí que reside a essência do bom cinema.

 Quem também brilha é o Hans Zimmer. É a sua melhor banda sonora desde há muito e com certeza que entra para o seu top 5. Hans tende a imitar-se muito mas encontrou aqui um motivo para fazer algo diferente do que está habituado. Eu diria que há muita inspiração ao Koyaanisqatsi, o que adoro. A banda-sonora fará parte da minha estante mal seja possível. Zimmer estava mesmo a precisar de um trabalho destes depois do que saiu em Amazing Spiderman 2 que, embora com boas intenções, não é nem de perto o seu melhor.



 Então, o que aprendemos hoje? Tudo bem, a história não é a melhor de sempre mas faz o seu trabalho bem o suficiente. Felizmente o filme é acompanhado por visuais incríveis e uma banda-sonora soberba. Está aqui um filmaço!



 Certo Bruninho?




 Bruno?





Ahem, bom. É assim meus amigos.


 Vai depender de como encaram o filme.

À semelhança do que aconteceu com o Inception, não nos apresentam (literalmente) um mundo diferente mas sim um "universo cinematográfico" com regras diferentes das nossas, isto é, há eventos que funcionam de forma diferente neste mundo. Mais concretamente, em Inception entrar e manipular o sonho de outra pessoa é uma verdade. Ou como se diz na gíria, é "à filme". A partir daí, nós não julgamos o quão irrealista é essa regra de manipular o sonho mas sim se quebram ou não as regras impostas para este universo, o que nos leva à inconsistência e pode estragar tudo levando ao célebre momento cinematográfico "éh! ganda treta!".

 Tal como Inception, Interstellar pede muito de nós. Mas tem uma tarefa mais complicada pois todo o filme é baseado numa mistura de factos e teorias. Falamos aqui não só de teorias físicas e quânticas como relativas e a simples observação. Como sabemos que as regras no espaço funcionam realmente assim? Bem, não sabemos. Supomos de uma forma relativamente fundamentada mas a verdade é que o filme pede muito, mas muito suspension of disbelief e é aqui que pode ser o ponto fraco do filme. Estamos a falar de um filme que começa e dura num ambiente que nos é familiar e passa para uma viagem, bem, inter-estrelar. O filme trabalha com a teoria de um wormwhole e embora as próprias personagens não estejam completamente certas de como tudo funciona, o filme pede ao público que independentemente de funcionar ou não como previsto, aceitem. É tramado, até que ponto se pode ir sem dizer "é à filme! ganda treta!"? Inception apresenta-nos as regras ao inicio e a partir daí vemos a execução, mas Interstellar prepara-nos para o que pode vir aí sem nunca admitir o que vai acontecer. Funciona bem no contexto de viagem espacial mas o resultado pode não ser o que o público está à espera do filme.



 Interstellar é dos melhores filmes do Jesus Cristo e merece ser recordado no patamar dos filmes sobre o espaço. Trabalha muito com os conceitos típicos mas traz algumas ideias novas para a mesa, para não falar no que faz em termos cinematográficos. Nolan volta a fazer das suas mas, e tendo eu visto o filme com uma semana de antecedência ao resto do mundo, não sei prever como será aceite pelo público pois como disse exige muito suspension of disbelief. Mas se deixarem-se ir o filme leva-vos para uma jornada fantástica.


 É uma experiência a não perder. Se puderem vejam em IMAX ou pelo menos na melhor sala que conseguirem mas não deixem de o ver no cinema. Não é perfeito mas merece a vossa atenção.






 PS- Quero um TARS em casa.


Depois percebem.

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