Sejam todos muito bem-vindos à minha nova rubrica: "No Meu Tempo". É uma rubrica onde pretendo voltar às séries e filmes que via em pequeno e analisar para ver se resistiram ao feitiço do tempo. Mas tal como uma boa rubrica feita pelos cinéfilos portugueses, irei começar e ficar anos sem escrever mais nada. No fundo é uma rubrica de um só fascículo. Serei talvez dos primeiros bloggers a acabar toda uma rubrica. Ah, 2014 foi um bom ano para mim.
Mas que se lixe a minha parvoíce, é hora de nos centrarmo-nos na parvoíce da minha série favorita de todos os tempos, mesmo que acabe por preferir outra entretanto.
Era eu um Bruno pequeno (de agora a diante, será referido como Bruninho) que, ao
Kids, a RTP2 era o melhor canal que ninguém via. |
Prefácio extenso e inútil:
O ano era, sensivelmente, 2002 (ou 2003) e um desses programas que eu adorava era o 3º Calhau a Contar do Sol. Também via uma sitcom com o John Cho mas não me recordo do nome e antes que o meu patrão me apanhe a escrever no blog em vez de fazer spam vou concentrar-me numa série só.
Hoje está muito na moda ver-se séries. É meio esquisito eu achar que as séries tornaram-se mainstream visto que há anos que passam na televisão mas, sim, é mais ou menos isso. Há todo um culto em ver-se séries. House, Dexter, Game of Thrones, The Walking Dead e mais umas 200 fazem parte das conversas dos jovens de hoje em dia. Há quem veja todas as séries existentes. Consomem episódios e temporadas que nem Cheetos, chegando a ser, em muitos casos, ver por ver. Sim, o que era antes mudar de canal a correr para se apanhar o genérico do X-Files é agora a nova colecção de cromos. Antigamente, perguntava-se o clube de futebol ou se tinha droga para se ser socialmente aceite num grupo. Hoje, grita-se "Ah sim sim, eu também vejo essa!" enquanto partilha-se droga e instantaneamente há aceitação. Eu tenho umas quantas teorias sobre isto mas vou apressar para chegar a este ponto: Quando eu digo "Vi alguns episódios. É fixe. Mas a minha série favorita é o 3º Calhau a Contar do Sol" "Quem? Epa, se vais começar a ser outra vez pretensioso como naquele artigo que escreveste no CINE31 em que engonhavas até finalmente falares daquilo que fez as pessoas clicarem no link, então deixa-te de merdas! Ui, olha para mim que vejo cinema independente! Vês é filmes da Marvel independentemente de haver filmes bons! Desampara-te!"
E de facto é verdade. Só tenho UM amigo que sabe do que falo. E ao longo dos anos conheci a Andreia Mandim e depois comecei a seguir o Close Up onde me apercebi que há 10 pessoas que conhecem, mas foram anos a falar só com o Vicente sobre a série.
Bem, o tempo chegou! Passarei a usar este artigo para mostrar a todos o que faz desta série única e o porquê do John Lithgow ser uma pessoa incrível.
My work here is done |
A História:
3rd Rock From the Sun conta-nos a história de quatro aliens que vêm à Terra (daí o título) para mais uma das suas inúmeras missões de estudo de espécies. Desta vez, passam alguns dias na Terra a conhecerem os Humanos e todas as suas... peculiaridades. Para tal, criam quatro corpos humanos, nomes e um apelido familiar bem como um enquadramento histórico que vai adaptando-se ao longo da série. No geral, são profissionais na sua tarefa mas não leva muito tempo até que os nossos costumes e os seus corpos lhes deem a volta (não vamos pensar muito nisso). No dia de partida, o Comandante fica tão fascinado pela nossa complexidade que, com o grupo contrariado, decide ficar por mais uns tempos para nos conhecer ainda melhor. O vício [constante] de conhecer acaba por ser só dele mas o grupo afeiçoa-se à Terra, cada um à sua maneira.
As Personagens (Aliens):
Dick
Dick Solomon é interpretado por John Lithgow. Se o nome e a foto acima não vos diz, misteriosamente, nada, então esta imagem deve ajudar:
É uma transformação do caraças. Não que seja o seu primeiro vilão mas é uma transformação muito maior do que cerrar o olhar. Como é que alguém que faz as figuras de Dick Solomon consegue genuinamente intimidar como o Trinity Killer, não sei, mas deve envolver aqueles pós milagrosos dos ginásios. Ah e ainda é o pai do Barney. PORQUE É QUE ESTE HOMEM NÃO APARECE MAIS VEZES?!?!!?
Adiante,
Dick Solomon é o carismático comandante da equipa. Como disse acima, é o mais curioso e adora saber mais sobre os humanos bem como misturar-se entre eles... embora, como seria de esperar, nunca resulta a não ser que seja entre gente mais esquisita do que ele. E todos nós conhecemos gente assim.
Credo. |
É um professor de física numa universidade e o raio do "homem" é um génio. Não só sabe responder a todos os conceitos do universo (o que torna as aulas difíceis pois com o entusiasmo explica mais do que os próprios humanos sabem) como ainda troça da nossa ciência. Mas pelo meio sabe admitir quem é um génio.
Apesar disso, é dado a entender que toda esta sabedoria é como que cultura geral para a sua espécie o que explica a sua surpresa e troça das nossas crenças. Isto pode ser evidenciado pelo facto de os seus colegas alienígenas nunca se surpreenderem com o conhecimento de Dick e que o Tommy (já lá vamos) seja mais esperto ainda que o Dick em várias matérias. Portanto, na verdade, o Dick é um tipo bastante normal no seu planeta ou, até, abaixo da média.
É, de longe, a minha personagem favorita da série. A sua incompetência em misturar-se connosco mas agir como se já tivesse absorvido cultura mais que suficiente proporciona momentos de pura histeria. Também há a possibilidade de vocês não se rirem ao verem os meus exemplos mas como eu estou a escrever na internet tenho, legalmente, o poder da verdade absoluta.
Dick apaixona-se pela sua colega Mary Albright (Jane Curtin, que nunca mais fez nada de jeito) o que traz logo uma forma hilariante de ver o amor entre humanos passando por tudo. Por. Tudo. Todas as etapas, todos os acontecimentos típicos (jantar, sexo, conhecer os pais,...)... por uma ordem aleatória. Acaba por ser a maior ligação de Dick com a Terra o que enfurece ainda mais os colegas que quando querem ir embora, Dick insiste sempre que é por uma razão que nada tem a ver com a Albright. E tem tudo a ver com a Albright, como eles bem sabem.
O irónico é que o Dick é tanto o melhor como o pior da série. À medida que a série avança, o Dick vai-se revelando cada vez mais como, bem, uma criança. Com isso vem a arrogância e o egoísmo, componentes mais que presentes no ser humano mas há uma temporada que bate muito nessa mesma tecla tornando no Dick em quase um vilão pois os episódios acabam sempre com tantos os aliens como os humanos a unirem-se para dar uma lição ao Dick. Isto dá-se numa temporada que não me recordo mas são vários episódios seguidos tornando um pouco redundante. Divertido, atenção, mas redundante. Felizmente, tal como uma criança, isto passa-lhe e a série volta a ser tão imprevisível como no início. Já agora, nunca pensei escrever tanta vez "Dick" na internet. O meu patrão David de certo que estará orgulhoso.
Pode não ser o melhor comandante de sempre, mas quem conseguiria ter tempo para isso quando se tem que ser pai e marido ao mesmo tempo? Da mesma pessoa? O Woody Allen que o diga!
Sally
Sally Solomon (Kristen Johnston) é a Tenente do grupo e é a mulher da família...porque perdeu. Antes que eu seja atacado por saltos agulha, é literalmente a explicação que dão no primeiro episódio.
Ao ser a única mulher da família, tem uma importância extrema para a série pois como seria de esperar oferece uma análise única e talvez a mais detalhada sobre o ser humano. É a que menos compreende o corpo mas também é a que melhor aprende a gostar de si. Tal é feito de forma brilhante pois ao ser a Tenente e a especialista em segurança vê-se metida em imensos conflitos tipicamente masculinos causando alguma confusão a quem se mete com ela. Por outro lado, tão depressa é mais guerreira que a Xena como, para sua surpresa, tem momentos espontâneos de fragilidade. Toda esta falta de balanço mostra muito bem os prós e contras de ser mulher, bem como as vantagens e desvantagens de ser homem.
Ao perceber como o mundo funciona (...tanto quanto pode) aprende a conseguir o que quer mas sem perder a ingenuidade. Só não consegue ser a Comandante como quer desde o início mas acaba por pelo menos ter essa oportunidade por um tempo limitado.
Mas o ser humano não é perfeito e toda a força de She-Hulk eventualmente acaba por se perder ao ser confrontada com o maior inimigo dos humanos: o amor!
Sally apaixona-se pelo NEWMAN!!!
Sally vê em Don o que entretanto tinha perdido. Um guerreiro que não se deixa intimidar por nada nem ninguém! E a farda também é sempre um bónus! Em sua defesa, de facto o Wayne Knight é a definição de sexy e tudo o que eu gostava de ser mas nunca consegui por ter feito más escolhas, mas na verdade Don é um grandessíssimo maricas. Só tem jeito para tratar da papelada da polícia e mesmo isso dá-lhe preguiça. Mas faz questão de se armar de forma hilariantemente exagerada aproveitando a confusão de Sally... ficando ele próprio confuso mas tanto faz, tem uma mulher!
A relação dos dois é extremamente divertida e apesar das mentiras de Don e da ingenuidade de Sally, são verdadeiros um com o outro. De facto, amam-se, mesmo sendo os dois completos opostos. Don, mesmo assumindo uma farsa, tenta salvar a Sally de várias situações (e vice-versa) e tenta fazer com que esta veja que a vida não pode ser como ela vê. Eventualmente, Don admite tudo, abandonando a polícia por ser um cobarde e dedicando-se a algo mais... descontraído. Mas Sally acaba por lhe dar a volta tornando-o num guerreiro ainda melhor do que ela não só por ele precisar de ganhar confiança mas porque ela pode não estar sempre presente para o proteger.
Sendo esta a segunda relação em paralelo, a série faz um bom trabalho em explorar outras questões que a relação do Dick com a Mary não explora. Enquanto que a relação do Dick e da Mary é essencialmente conjugal mas divertida pelos caracteres de cada um, Sally e Don são um casal puramente pela diversão. Centram-se mais em melhorar um ao outro do que a relação pois esta desde o início que funciona (apesar da improbabilidade) enquanto que Dick e Mary fazem todos os possíveis tanto para se juntarem como para acabarem e eventualmente juntarem-se de novo. E assim se escreve uma série.
Sally é uma personagem importantíssima tanto para a série como para a televisão. É temível e bruta mas é também obrigada a lidar com a sua fragilidade e defeitos, acabando por as aceitar mas não deixando de dar ênfase às suas qualidades. Aprende que os homens serão sempre defeituosos por nascença mas (e aqui vem a parte refrescante) aprende também que as mulheres têm muita coisa a precisar de ser melhorada. Pelo final, aprende que o divertido está precisamente em haver esta diferença desastrosa mas por alguma razão resultar na mesma.
Ora.... como eu disse ao início, eu sou fã desta série desde criança. Como tal, sou fã do Joseph Gordon-Levitt.... e com o passar dos anos tornei-me fã de outra coisa... e não é que OH MEU DEUS!!!!
The Tommy Rises
Quem iria alguma vez adivinhar que o pequeno "Joey" Gordon-Levitt, quem nós vemos a crescer ao longo da série, tornar-se-ia num dos mais versáteis actores da sua geração? Porra, isso era o que esperávamos do Frankie Muniz!
Tommy é o pré-adolescente do grupo. E, curiosamente, é o alien mais velho do grupo. Como tal, é o mais prudente e astuto dos quatro sendo o responsável por recolher informações durante a missão fazendo com que seja sempre útil consultá-lo antes de frequentarem cerimónias e outros eventos. Só há um pequeno detalhe.
O homem está cheio, cheio, cheio de hormonas.
Tínhamos o Pai, a Mulher/Mãe e como tal faz falta uma introspectiva à fase mais hilariante e triste da nossa vida, a adolescência.
Tommy tenta ser a cabeça do grupo tanto quanto pode mas a distração hormonal mete-se constantemente no caminho. Com isso, acompanhamos o seu crescimento (literal) ao longo da série, passando por todas as fases desde a primeira namorada e experiências sexuais (o que é engraçado porque todos têm a sua primeira vez) à vida universitária.
É interessante pois Tommy é exactamente o que seria ter a cabeça de um crescido num corpo de rapaz, tendo então já experiência mas não A experiência. Se é que isto fez sentido. Ele é racional e tenta ser sensato com as suas crenças, o problema é que ninguém pensa da mesma forma. Por vezes faz porcaria como é o caso da perda da sua virgindade (bem, dependendo da perspectiva) outras é legitimamente sensato e com uma inesperada razão mas as personagens não vêem da mesma forma e nós, público, percebemos porque não. Exemplo: a namorada do Tommy pergunta se ele vai convidá-la ao baile. Ele pergunta se ela quer ir e ela diz que não. O Tommy, obviamente, diz ainda bem porque também não queria ir. Nisto, a namorada chateia-se de imediato por ele não ter percebido que...huuuh...só isso, não ter percebido (o infame "you just don't get it!")
Com isso, o Tommy deixa por vezes de parte o que acha sensato e tenta arriscar à maluca tal como lhe parece ser o que fazem. E dá bronca outra vez.
Ele tem um estilo de humor diferente, não é propriamente um humor directo em que diz palhaçadas e veste-se de forma engraçada, a graça está nele não compreender os humanos (tal como os seus colegas) mas achar que os humanos estão errados e que não fazem sentido. No entanto, por já ser tão velho, não tá para se chatear mais e tenta o máximo que pode misturar-se na sociedade. Na verdade, é o que melhor se dá no planeta, há genuinamente momentos em que parece um miúdo normal... até a família eventualmente estragar tudo.
Portanto temos o Comandante a fazer de Pai/Marido, a Tenente-Segurança a fazer de Mulher/Mãe, o Informador (Ou algo assim) a fazer de Jovem com cio... e depois temos o Harry a fazer de...bem...Harry.
Harry
Nas palavras do narrador da primeira temporada: "Dick, Sally, Tommy e... Harry... porque tinham um lugar livre".
Harry é o alien que não é bom em nada e se já era inapto no seu planeta, na Terra então não se mistura minimamente. É fascinado por pequenas coisas que nós não damos importância (vá-se lá saber porquê) e não há nada que mais adore do que o seu casaco de Pimp de Caneças. É o mais imprevisível dos quatro. Bem, depende do ponto de vista. É previsível que vá sair dali parvoíce, só nos resta descobrir a intensidade na escala de Mercalli. O seu humor é... especial. Não me surpreende que hajam pessoas que não gostem dele pois de facto é extremamente.. peculiar. E enquanto que não acerte 100% nas piadas, seja por ser tão bizarro ou por ser irritante, eu diria que 95% resulta e proporciona alguns dos momentos mais memoráveis. Eu disse que ele não se mistura bem em lado nenhum mas surpreende ao entender melhor que ninguém como funcionam certos aspectos, especialmente como é ser Homem.
Não só mete graça pelas parvoíces ingénuas mas os seus momentos mais engraçados são quando se mistura nas situações mais improváveis. Eis um link pois não consigo colar o vídeo:
Como é que um parvo como o Harry aprende os nossos dramas e costumes? Graças à televisão é claro! Acaba por aplicar o que aprende na televisão no seu dia-a-dia e, às vezes, resulta surpreendentemente. Outras vezes... bem, lembram-se de eu ter dito que Harry tinha os seus momentos bizarros?.... Lembram-se daquele bebé a dançar feito a computador nos anos 90 que, já para a altura, era assustador como o caraças?..
O momento em cima é, na verdade, uma visão da Vicky mas... sinto-me desconfortável!
Acho que devo mencionar quem é a Vicky. Por alguma razão, é dito ao longo da série que Harry é visto como do mais sensual que há e portador do corpo perfeito, o que faz com que ele consiga engatar umas quantas mulheres. Vicky acaba por ser a sua maior relação e estão bem um para o outro pois é igualmente esquisita e exagerada. A relação deles os dois não é, minimamente, levada a sério. É como se a relação da Sally e do Don não tivesse desenvolvimento. É puramente por diversão e nada mais.
French Stewart nunca catapultou para o estrelato sendo este o seu papel mais memorável. Ainda aparece por aí, incluindo no CSI e na Bones mas é frequentemente esquecido. É adorado nesta série, sim, mas nunca teve um sucesso de época como o Jaleel White e o seu Urkel. Honestamente, eu acho que ele tem potencial como actor, não necessariamente de comédia. Vejo-o em papéis muito específicos que podiam resultar bem. Eh, quando eu chegar a Hollywood falo com o seu agente.
A Série
A série debate todo o tipo de temas desde o amor à política. E bem sabemos como vai um grande caminho entre esses dois. Um episódio fala, por exemplo, sobre sentimentos, outro fala sobre a relação de pai e filho, outro fala sobre seguradoras (com bons pontos de vista), outro fala sobre IRS, outro fala especialmente sobre ser mulher, outro fala especialmente sobre sexo, outro fala sobre o ano novo, outro fala sobre envelhecer, outro fala sobre ter amigos... varia muito entre o que é mais inato em nós e as simples peripécias do nosso quotidiano, havendo tempo para episódios mais caricatos como quando o Dick é aprisionado e substituído pelo Evil Dick. A série segue uma muito fina continuidade sendo esta mais assente no que toca às relações e empregos. Por exemplo, o Dick e a Albright podem estar uns quantos episódios zangados até se reconciliarem e o Tommy vai subindo nos estudos e mudando de namorada de tempo em tempo. O episódio que referi sobre o Evil Dick é dividido em duas partes e, por norma, o final de cada temporada é constituído por uma história maior.
A série tem várias cenas gravadas em estúdio com direito a um público o que explica não só algumas cenas em que os actores se desmancham a rir mas como o público riu-se tanto eles decidem aproveitar e, também, o facto de alguns cenários serem horrivelmente básicos como quando o Dick vai jogar golf. Há umas quantas folhagens e um fundo falso para simbolizar que o Dick está num campo. Mas também há cenas passadas na rua e em outros locais sem público ao vivo mas que assiste de alguma maneira para gravarem os risos. Felizmente, não são os stocks que a nossa televisão tem e que faz questão de espalhar por todo o episódio dos Malucos do Riso em que uma personagem dá um passo e as "pessoas" mal conseguem controlar os risos.
Sendo uma série de ficção-científica, obviamente não podia deixar de fazer homenagens, referências e ter cameos. Senhoras e Senhores, Mr. George Takei a fazer dele próprio:
Mas para verem a magnitude da espetacularidade desta série... Senhoras e Senhores, Mr. John Cleese como um alien (o que mesmo noutro contexto já era incrível) rival do Dick:
E sabem quem é o chefe do Dick? O Big Giant Head?
Senhoras e Senhores, Mr. William Shatner:
Entre outros cameos.
Toda a primeira temporada vale a pena ser vista e embora as 6 temporadas sejam todas elas boas, eventualmente os episódios acabam por ser altos e baixos. Como referi lá para o início, muitos episódios centram-se na infantilidade do Dick o que acaba por se tornar um pouco maçador e previsível mas só dura alguns episódios. Outros episódios são simplesmente mais fracos em termos de desenvolvimento e de piadas mas a série, como um todo, continua a ser brilhante e sejamos sinceros, que série é que não tem eventualmente os seus podres?
Também sofre de algumas inconsistências. Por exemplo, logo ao inicio os Aliens sabem coisas sobre nós que são tão específicas que parece que nos conhecem há imenso tempo mas outras coisas que são ainda mais banais em nós faz com que fiquem totalmente surpresos como a utilização de alguns objectos ou os conceitos básicos do corpo. E, no entanto, sabem conduzir carros. Mas sejamos sinceros, a série é muito light-hearted, isto não é suposto ser uma ciência precisa como o Looper ou algo assim, ninguém quer saber disso, é só por diversão.
Não consigo escolher episódios ou momentos preferidos pois, embora eu tenha tentado, são mesmo, mesmo demasiados para falar. Talvez eu destaque os momentos entre o Dick e o seu maior rival, Strudwick que é uma relação muito parecida à de Homer com o Flanders, com a diferença de o Strudwick também detestar o Dick mas sendo igualmente hilariante. Aliás, queixo-me de não haver ainda mais momentos entre os dois ao longo da série.
Como se aguenta para os dias de hoje?
Ao ser uma série dos anos 90/2000, é interessante ver como é que estes aliens reagem a coisas que na altura eram topo de gama como um computador com internet, coisa que, hoje em dia, sabemos que é algo vindo do inferno pois a internet é um sítio infestado de trolls e de artigos escritos por mim. Se fosse feita hoje, de certo que haveria episódios dedicados à nossa dependência por smartphones, tablets, leitores de mp3, apps, GPS, celebridades nascidas em séries infantis da Disney, por aí adiante. Mas ainda bem que foi feita na década de 90 pois sinceramente os aliens ao descobrirem que existe um planeta que idolatra o Justin Bieber de certo faria com que nem uma noite passassem cá, bem como a destruição do planeta antecipada pelo John Cleese. Na verdade, ainda tenho esperança quanto à última parte.
Algumas temáticas já passaram o prazo e para as futuras gerações deixará de fazer tanto sentido mas um bom argumento é intemporal e 3rd Rock from the Sun aguenta mais que bem o teste do tempo pois os humanos continuam a ser os mesmo humanos: confusos e idiotas, com viscosidades ocasionais.
Mas o forte da série é o olhar sobre o Homem, abraçando todos os nossos defeitos e realçando a nossa beleza, tanto pessoal como social. Destacando só mais um episódio, o Dick tenciona fazer uma operação plástica para ficar mais atraente mas a minutos de começar, vê-se sozinho a olhar para o espelho e a sentir imediatas saudades das linhas e contornos da sua cara apreciando serem estes os traços do tempo e símbolos de memórias felizes e não só do que ele era como também no que se tornou. Acaba por recusar a operação defendendo que ele é lindo (à maneira dele). Infelizmente eu devo mesmo fazer a operação pois não me pareço com o McLovin o suficiente mas é um resumo perfeito não só do que esta sociedade se tornou e no que precisa de se tornar. A série também mostra a vasta divergência de culturas e personalidades. Há gente ainda mais esquisita que os próprios aliens, há gente que se adapta ainda pior aos nossos costumes do que eles. E, apesar de tudo, os aliens não querem sair do nosso planeta no último episódio. O que nos torna extraordinários é mesmo todo esse conflito interno com o que somos e externo com a diferença presente nas outras pessoas, as nossas relações e o quão parvos e desajeitados conseguimos ser para as mantermos pois tal como tudo na nossa vida não compreendemos bem como funciona mas sentimos um forte desejo de conhecer cada vez melhor, valorizando pequenas e insignificantes coisas e defendendo o que para nós é mais precioso. E é isso que a série nos mostra e é isso que os aliens aprendem e se tornam.
E tem o John Lithgow por isso vale sempre a pena ver!
Dedico este texto ao meu grande irmão Vicente pois arranjei-lhe a primeira temporada e já passaram uns 4 anos sem ter dado o resto. Quando comprar uma pen de 25 Gigas, eu levo-te!
O irónico é que o Dick é tanto o melhor como o pior da série. À medida que a série avança, o Dick vai-se revelando cada vez mais como, bem, uma criança. Com isso vem a arrogância e o egoísmo, componentes mais que presentes no ser humano mas há uma temporada que bate muito nessa mesma tecla tornando no Dick em quase um vilão pois os episódios acabam sempre com tantos os aliens como os humanos a unirem-se para dar uma lição ao Dick. Isto dá-se numa temporada que não me recordo mas são vários episódios seguidos tornando um pouco redundante. Divertido, atenção, mas redundante. Felizmente, tal como uma criança, isto passa-lhe e a série volta a ser tão imprevisível como no início. Já agora, nunca pensei escrever tanta vez "Dick" na internet. O meu patrão David de certo que estará orgulhoso.
Pode não ser o melhor comandante de sempre, mas quem conseguiria ter tempo para isso quando se tem que ser pai e marido ao mesmo tempo? Da mesma pessoa? O Woody Allen que o diga!
Sally
Sally Solomon (Kristen Johnston) é a Tenente do grupo e é a mulher da família...porque perdeu. Antes que eu seja atacado por saltos agulha, é literalmente a explicação que dão no primeiro episódio.
Ao ser a única mulher da família, tem uma importância extrema para a série pois como seria de esperar oferece uma análise única e talvez a mais detalhada sobre o ser humano. É a que menos compreende o corpo mas também é a que melhor aprende a gostar de si. Tal é feito de forma brilhante pois ao ser a Tenente e a especialista em segurança vê-se metida em imensos conflitos tipicamente masculinos causando alguma confusão a quem se mete com ela. Por outro lado, tão depressa é mais guerreira que a Xena como, para sua surpresa, tem momentos espontâneos de fragilidade. Toda esta falta de balanço mostra muito bem os prós e contras de ser mulher, bem como as vantagens e desvantagens de ser homem.
Ao perceber como o mundo funciona (...tanto quanto pode) aprende a conseguir o que quer mas sem perder a ingenuidade. Só não consegue ser a Comandante como quer desde o início mas acaba por pelo menos ter essa oportunidade por um tempo limitado.
Mas o ser humano não é perfeito e toda a força de She-Hulk eventualmente acaba por se perder ao ser confrontada com o maior inimigo dos humanos: o amor!
Sally apaixona-se pelo NEWMAN!!!
Eh, podemos censurá-la? |
Sally vê em Don o que entretanto tinha perdido. Um guerreiro que não se deixa intimidar por nada nem ninguém! E a farda também é sempre um bónus! Em sua defesa, de facto o Wayne Knight é a definição de sexy e tudo o que eu gostava de ser mas nunca consegui por ter feito más escolhas, mas na verdade Don é um grandessíssimo maricas. Só tem jeito para tratar da papelada da polícia e mesmo isso dá-lhe preguiça. Mas faz questão de se armar de forma hilariantemente exagerada aproveitando a confusão de Sally... ficando ele próprio confuso mas tanto faz, tem uma mulher!
A relação dos dois é extremamente divertida e apesar das mentiras de Don e da ingenuidade de Sally, são verdadeiros um com o outro. De facto, amam-se, mesmo sendo os dois completos opostos. Don, mesmo assumindo uma farsa, tenta salvar a Sally de várias situações (e vice-versa) e tenta fazer com que esta veja que a vida não pode ser como ela vê. Eventualmente, Don admite tudo, abandonando a polícia por ser um cobarde e dedicando-se a algo mais... descontraído. Mas Sally acaba por lhe dar a volta tornando-o num guerreiro ainda melhor do que ela não só por ele precisar de ganhar confiança mas porque ela pode não estar sempre presente para o proteger.
Sendo esta a segunda relação em paralelo, a série faz um bom trabalho em explorar outras questões que a relação do Dick com a Mary não explora. Enquanto que a relação do Dick e da Mary é essencialmente conjugal mas divertida pelos caracteres de cada um, Sally e Don são um casal puramente pela diversão. Centram-se mais em melhorar um ao outro do que a relação pois esta desde o início que funciona (apesar da improbabilidade) enquanto que Dick e Mary fazem todos os possíveis tanto para se juntarem como para acabarem e eventualmente juntarem-se de novo. E assim se escreve uma série.
Sally é uma personagem importantíssima tanto para a série como para a televisão. É temível e bruta mas é também obrigada a lidar com a sua fragilidade e defeitos, acabando por as aceitar mas não deixando de dar ênfase às suas qualidades. Aprende que os homens serão sempre defeituosos por nascença mas (e aqui vem a parte refrescante) aprende também que as mulheres têm muita coisa a precisar de ser melhorada. Pelo final, aprende que o divertido está precisamente em haver esta diferença desastrosa mas por alguma razão resultar na mesma.
Ora.... como eu disse ao início, eu sou fã desta série desde criança. Como tal, sou fã do Joseph Gordon-Levitt.... e com o passar dos anos tornei-me fã de outra coisa... e não é que OH MEU DEUS!!!!
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É COMO SE O CICLO DA MINHA INFÂNCIA SE FECHASSE OU UMA MERDA ASSIM!!!! |
The Tommy Rises
Quem iria alguma vez adivinhar que o pequeno "Joey" Gordon-Levitt, quem nós vemos a crescer ao longo da série, tornar-se-ia num dos mais versáteis actores da sua geração? Porra, isso era o que esperávamos do Frankie Muniz!
Bem, sejamos sinceros, com o pai metido na metanfetamina, as coisas só podiam complicar |
O homem está cheio, cheio, cheio de hormonas.
O que viria a explicar muita coisa |
Tommy tenta ser a cabeça do grupo tanto quanto pode mas a distração hormonal mete-se constantemente no caminho. Com isso, acompanhamos o seu crescimento (literal) ao longo da série, passando por todas as fases desde a primeira namorada e experiências sexuais (o que é engraçado porque todos têm a sua primeira vez) à vida universitária.
É interessante pois Tommy é exactamente o que seria ter a cabeça de um crescido num corpo de rapaz, tendo então já experiência mas não A experiência. Se é que isto fez sentido. Ele é racional e tenta ser sensato com as suas crenças, o problema é que ninguém pensa da mesma forma. Por vezes faz porcaria como é o caso da perda da sua virgindade (bem, dependendo da perspectiva) outras é legitimamente sensato e com uma inesperada razão mas as personagens não vêem da mesma forma e nós, público, percebemos porque não. Exemplo: a namorada do Tommy pergunta se ele vai convidá-la ao baile. Ele pergunta se ela quer ir e ela diz que não. O Tommy, obviamente, diz ainda bem porque também não queria ir. Nisto, a namorada chateia-se de imediato por ele não ter percebido que...huuuh...só isso, não ter percebido (o infame "you just don't get it!")
Com isso, o Tommy deixa por vezes de parte o que acha sensato e tenta arriscar à maluca tal como lhe parece ser o que fazem. E dá bronca outra vez.
Ele tem um estilo de humor diferente, não é propriamente um humor directo em que diz palhaçadas e veste-se de forma engraçada, a graça está nele não compreender os humanos (tal como os seus colegas) mas achar que os humanos estão errados e que não fazem sentido. No entanto, por já ser tão velho, não tá para se chatear mais e tenta o máximo que pode misturar-se na sociedade. Na verdade, é o que melhor se dá no planeta, há genuinamente momentos em que parece um miúdo normal... até a família eventualmente estragar tudo.
Portanto temos o Comandante a fazer de Pai/Marido, a Tenente-Segurança a fazer de Mulher/Mãe, o Informador (Ou algo assim) a fazer de Jovem com cio... e depois temos o Harry a fazer de...bem...Harry.
Harry
Nas palavras do narrador da primeira temporada: "Dick, Sally, Tommy e... Harry... porque tinham um lugar livre".
Harry é o alien que não é bom em nada e se já era inapto no seu planeta, na Terra então não se mistura minimamente. É fascinado por pequenas coisas que nós não damos importância (vá-se lá saber porquê) e não há nada que mais adore do que o seu casaco de Pimp de Caneças. É o mais imprevisível dos quatro. Bem, depende do ponto de vista. É previsível que vá sair dali parvoíce, só nos resta descobrir a intensidade na escala de Mercalli. O seu humor é... especial. Não me surpreende que hajam pessoas que não gostem dele pois de facto é extremamente.. peculiar. E enquanto que não acerte 100% nas piadas, seja por ser tão bizarro ou por ser irritante, eu diria que 95% resulta e proporciona alguns dos momentos mais memoráveis. Eu disse que ele não se mistura bem em lado nenhum mas surpreende ao entender melhor que ninguém como funcionam certos aspectos, especialmente como é ser Homem.
Um bom resumo |
Como é que um parvo como o Harry aprende os nossos dramas e costumes? Graças à televisão é claro! Acaba por aplicar o que aprende na televisão no seu dia-a-dia e, às vezes, resulta surpreendentemente. Outras vezes... bem, lembram-se de eu ter dito que Harry tinha os seus momentos bizarros?.... Lembram-se daquele bebé a dançar feito a computador nos anos 90 que, já para a altura, era assustador como o caraças?..
Exactamente, Harry Solomon era um dos Guardians of the Galaxy.
O momento em cima é, na verdade, uma visão da Vicky mas... sinto-me desconfortável!
Acho que devo mencionar quem é a Vicky. Por alguma razão, é dito ao longo da série que Harry é visto como do mais sensual que há e portador do corpo perfeito, o que faz com que ele consiga engatar umas quantas mulheres. Vicky acaba por ser a sua maior relação e estão bem um para o outro pois é igualmente esquisita e exagerada. A relação deles os dois não é, minimamente, levada a sério. É como se a relação da Sally e do Don não tivesse desenvolvimento. É puramente por diversão e nada mais.
French Stewart nunca catapultou para o estrelato sendo este o seu papel mais memorável. Ainda aparece por aí, incluindo no CSI e na Bones mas é frequentemente esquecido. É adorado nesta série, sim, mas nunca teve um sucesso de época como o Jaleel White e o seu Urkel. Honestamente, eu acho que ele tem potencial como actor, não necessariamente de comédia. Vejo-o em papéis muito específicos que podiam resultar bem. Eh, quando eu chegar a Hollywood falo com o seu agente.
A Série
A série debate todo o tipo de temas desde o amor à política. E bem sabemos como vai um grande caminho entre esses dois. Um episódio fala, por exemplo, sobre sentimentos, outro fala sobre a relação de pai e filho, outro fala sobre seguradoras (com bons pontos de vista), outro fala sobre IRS, outro fala especialmente sobre ser mulher, outro fala especialmente sobre sexo, outro fala sobre o ano novo, outro fala sobre envelhecer, outro fala sobre ter amigos... varia muito entre o que é mais inato em nós e as simples peripécias do nosso quotidiano, havendo tempo para episódios mais caricatos como quando o Dick é aprisionado e substituído pelo Evil Dick. A série segue uma muito fina continuidade sendo esta mais assente no que toca às relações e empregos. Por exemplo, o Dick e a Albright podem estar uns quantos episódios zangados até se reconciliarem e o Tommy vai subindo nos estudos e mudando de namorada de tempo em tempo. O episódio que referi sobre o Evil Dick é dividido em duas partes e, por norma, o final de cada temporada é constituído por uma história maior.
A série tem várias cenas gravadas em estúdio com direito a um público o que explica não só algumas cenas em que os actores se desmancham a rir mas como o público riu-se tanto eles decidem aproveitar e, também, o facto de alguns cenários serem horrivelmente básicos como quando o Dick vai jogar golf. Há umas quantas folhagens e um fundo falso para simbolizar que o Dick está num campo. Mas também há cenas passadas na rua e em outros locais sem público ao vivo mas que assiste de alguma maneira para gravarem os risos. Felizmente, não são os stocks que a nossa televisão tem e que faz questão de espalhar por todo o episódio dos Malucos do Riso em que uma personagem dá um passo e as "pessoas" mal conseguem controlar os risos.
Sendo uma série de ficção-científica, obviamente não podia deixar de fazer homenagens, referências e ter cameos. Senhoras e Senhores, Mr. George Takei a fazer dele próprio:
Mas para verem a magnitude da espetacularidade desta série... Senhoras e Senhores, Mr. John Cleese como um alien (o que mesmo noutro contexto já era incrível) rival do Dick:
E sabem quem é o chefe do Dick? O Big Giant Head?
Senhoras e Senhores, Mr. William Shatner:
Entre outros cameos.
Toda a primeira temporada vale a pena ser vista e embora as 6 temporadas sejam todas elas boas, eventualmente os episódios acabam por ser altos e baixos. Como referi lá para o início, muitos episódios centram-se na infantilidade do Dick o que acaba por se tornar um pouco maçador e previsível mas só dura alguns episódios. Outros episódios são simplesmente mais fracos em termos de desenvolvimento e de piadas mas a série, como um todo, continua a ser brilhante e sejamos sinceros, que série é que não tem eventualmente os seus podres?
Ahem. |
Também sofre de algumas inconsistências. Por exemplo, logo ao inicio os Aliens sabem coisas sobre nós que são tão específicas que parece que nos conhecem há imenso tempo mas outras coisas que são ainda mais banais em nós faz com que fiquem totalmente surpresos como a utilização de alguns objectos ou os conceitos básicos do corpo. E, no entanto, sabem conduzir carros. Mas sejamos sinceros, a série é muito light-hearted, isto não é suposto ser uma ciência precisa como o Looper ou algo assim, ninguém quer saber disso, é só por diversão.
Não consigo escolher episódios ou momentos preferidos pois, embora eu tenha tentado, são mesmo, mesmo demasiados para falar. Talvez eu destaque os momentos entre o Dick e o seu maior rival, Strudwick que é uma relação muito parecida à de Homer com o Flanders, com a diferença de o Strudwick também detestar o Dick mas sendo igualmente hilariante. Aliás, queixo-me de não haver ainda mais momentos entre os dois ao longo da série.
Como se aguenta para os dias de hoje?
A vida antes dos contratos de fidelização da Vodafone |
Ao ser uma série dos anos 90/2000, é interessante ver como é que estes aliens reagem a coisas que na altura eram topo de gama como um computador com internet, coisa que, hoje em dia, sabemos que é algo vindo do inferno pois a internet é um sítio infestado de trolls e de artigos escritos por mim. Se fosse feita hoje, de certo que haveria episódios dedicados à nossa dependência por smartphones, tablets, leitores de mp3, apps, GPS, celebridades nascidas em séries infantis da Disney, por aí adiante. Mas ainda bem que foi feita na década de 90 pois sinceramente os aliens ao descobrirem que existe um planeta que idolatra o Justin Bieber de certo faria com que nem uma noite passassem cá, bem como a destruição do planeta antecipada pelo John Cleese. Na verdade, ainda tenho esperança quanto à última parte.
Algumas temáticas já passaram o prazo e para as futuras gerações deixará de fazer tanto sentido mas um bom argumento é intemporal e 3rd Rock from the Sun aguenta mais que bem o teste do tempo pois os humanos continuam a ser os mesmo humanos: confusos e idiotas, com viscosidades ocasionais.
Mas o forte da série é o olhar sobre o Homem, abraçando todos os nossos defeitos e realçando a nossa beleza, tanto pessoal como social. Destacando só mais um episódio, o Dick tenciona fazer uma operação plástica para ficar mais atraente mas a minutos de começar, vê-se sozinho a olhar para o espelho e a sentir imediatas saudades das linhas e contornos da sua cara apreciando serem estes os traços do tempo e símbolos de memórias felizes e não só do que ele era como também no que se tornou. Acaba por recusar a operação defendendo que ele é lindo (à maneira dele). Infelizmente eu devo mesmo fazer a operação pois não me pareço com o McLovin o suficiente mas é um resumo perfeito não só do que esta sociedade se tornou e no que precisa de se tornar. A série também mostra a vasta divergência de culturas e personalidades. Há gente ainda mais esquisita que os próprios aliens, há gente que se adapta ainda pior aos nossos costumes do que eles. E, apesar de tudo, os aliens não querem sair do nosso planeta no último episódio. O que nos torna extraordinários é mesmo todo esse conflito interno com o que somos e externo com a diferença presente nas outras pessoas, as nossas relações e o quão parvos e desajeitados conseguimos ser para as mantermos pois tal como tudo na nossa vida não compreendemos bem como funciona mas sentimos um forte desejo de conhecer cada vez melhor, valorizando pequenas e insignificantes coisas e defendendo o que para nós é mais precioso. E é isso que a série nos mostra e é isso que os aliens aprendem e se tornam.
E tem o John Lithgow por isso vale sempre a pena ver!
Dedico este texto ao meu grande irmão Vicente pois arranjei-lhe a primeira temporada e já passaram uns 4 anos sem ter dado o resto. Quando comprar uma pen de 25 Gigas, eu levo-te!
Deste-me vontade de fazer uma maratonazita, é que eu também era fã :D