Não gosto muito da Sandra Bullock.
Não gosto muito do George Clooney.
Adoro o Alfonso Cuarón.
O que poderia sair daqui?
Bem, para minha surpresa, gostei imenso da Sandra Bullock. Tem de ser dos melhores papéis dela. Mesmo que metade do papel seja só respiração, é respiração muito bem... respirada. É mais um daqueles filmes nada recomendados a asmáticos. Como eu.
Ok então o trailer tinha a Sandra Bullock a girar constantemente até o infinito. Como podia isso ser história para duas horas? Digamos que Gravity é daqueles filmes que não é para ser visto pela história pois é só espetáculo visual. No entanto, não subestimem, não é meramente um Transformers em que é só por diversão, este tem inteligência em torno. Tirando uma [boa] cena, acho disparatado a comparação com o 2001. Não há mensagens subliminares (novamente, tirando uma cena), não há segundas intenções, não há complexidade. O mais próximo a moral é uma coisa vinda do nada perto do final. Trata-se exclusivamente de sobrevivência num ambiente em que tem de ser tudo meticuloso pois qualquer coisa que dê torto pode estragar tudo. Não há segundas oportunidades.Ou seja, a definição perfeita de uma das asneiras mais populares.
Talvez a substância do filme não seja suficiente para alguns mas não vejo onde possam tirar o chapéu a nível técnico. Meu Deus, e eu até sou ateu mas nisto tenho que saudar ao criador, os efeitos especiais são absolutamente magníficos. Se não fosse o cenário a lembrar-nos teríamos aqui um dos melhores exemplos de uncanny valley. Soberbo. Os trailers não fazem justiça e pela primeira vez (ou pelo menos em anos) o 3D faz sentido. Não será isso que vos deixará de boca aberta apesar de haver inúmeras cenas de "coisas atiradas à cara" que finalmente resultam mas funciona a nível mais subtil, ou seja, tal como Avatar, o 3D dá um empurrão à profundidade da imagem ao invés do realce. O resultado merece da minha parte uma resposta larilas: lindo!
Também o trabalho a nível de som é fantástico. Gravity tira proveito e muito bem das cenas que devem ou não ter som. Alguns jump-scares ridículos à parte, não só o som é perfeitamente estruturado e, como tal, pensado, como Alfonso tomou algumas liberdades e aproveitou o som para representar alguns conceitos que nos ajudam a entender o que as personagens sentem, mesmo que não seja óbvio na altura. Aproveito este parágrafo para levantar os meus dois polegares à banda-sonora que quando se mostra é também ela fantástica.
Estou a falar pouco sobre o filme mas na verdade acho que há pouco para falar. É mais para ver e sentir. É uma experiência com grandes doses de sci-fi (além das óbvias) e apesar de eu esperar mais do filme, é dos meus favoritos do ano. Não é dizer muito pois tem andado entre o mau com o mediano, à excepção do Kick-Ass 2 que me divertiu imenso.
Como conclusão, acho que fica bem dizer isto: não precisam de ver o Gravity MAS se têm interesse façam o favor de o verem no cinema. O 3D não é mal pago também. Mas vejam no cinema. Ou naquela televisão de 33 mil euros que a Fnac acha que são tempos para a comprar, não importa, vejam na melhor forma possível. Tecnicamente, uma perfeição. Bom tempo passado no cinema com vários momentos de deixar-vos de boca aberta mas baixem as expectativas, não vai ganhar melhor argumento em lado nenhum.
Se ganhar faço aqui oficialmente uma figura de parvo. Ou apago a frase sem dizer a ninguém fazendo com que meia dúzia dos comentários abaixo deixem de fazer sentido. Que é o mais provável.
Ah e quanto ao Clooney. Ele faz de Clooney no espaço. Admito que isso não só tem potencial como é potencial muito bem aproveitado. Desta vez escapas aos meus comentários idiotas, George.
E a partir desta geração, mais nenhuma criança crescerá a sonhar ser astronauta.