Nunca me esquecerei. Diante de um frio de rachar, passava eu por aquelas suaves lâminas de barbear que me percorriam o corpo. Agora a brisa sabia bem, sim, mas em finais de Novembro aquela ventania rasa em nada favorecia os meus órgãos decepcionantes. Seja a forma de Deus congelar o esperma dos jovens para não procriarem ou seja Al Gore com razão, foi um inverno aflitivo e acentuado num Natal tão pouco abastado. E enquanto eu continuava pela Almirante Reis vi a Senhora. A Senhora que viria a mudar o meu papel como cidadão aspirante, qual grumete. Sentada em cartões próprios para cobrirem LCD's, vi esticar sobre o meu caminho uma mão tão roxa, tão gélida. De nariz abatido, os olhos a pouco e pouco foram-me revelados. Tristonhos e sós, um claro passado outrora virtuoso e dona de um futuro promissor até outrem, a Senhora disse-me:
"Por favor, uma moedinha que seja! Eu sei que a crise também o afecta e aos seus mas tudo o que peço é uma sandes! Não tenho nada! Nada neste mundo que já ninguém tem! Só mesmo Hollywood com o Avengers, The Dark Knight Rises, Hunger Games e Twilight é que esfrega as mãos!"
E de facto a Senhora tinha razão. 2012 encheu o cú os bolsos a Hollywood e aos seus demais gatos gordos. Tenha sido pela grande qualidade ou grande preço por bilhete, os cinemas voltaram a criar toda uma claustrofobia gerada por jovens asquerosos e luzes de telemóveis. Várias vezes. Não só foi o verão gordo de blockbusters como além da despedida de um franchise acarinhado pela comunidade cinéfila, a saga Twilight, viu o nascer de uma outra petiz: The Hunger Games.
Foi daqueles sucessos espontâneos e para variar completamente inesperados por mim. Aliás nem sabia de onde vinha esta euforia toda. O filme lá chegou ao cinema e era ler uns chateados com o filme e os que gostaram, gostaram mesmo a valer. Mas mesmo, mesmo a valer. Eu levei o meu tempo mas lá acabei por ver entretanto em 2013, possivelmente um ano depois.
Meh, achei fraquinho. Ao ponto de, pela primeira vez, chamar um filme de fraquinho.
[possíveis mini-spoilers]
Mal começa, desgosto logo. Custa-me engolir que uma civilização tão moderna volte aos tempos dos gladiadores mas agora com crianças e jovens adultos. E choninhas. Nem cheguei a perceber o derradeiro propósito destes jogos além de entreter milhões de hipócritas. Está bem, lá nisso é como o Big Brother. Humm. Pronto, se calhar até é plausível. Se calhar também devo dizer agora que não li os livros mas vou deixar que soe como se eu costumasse ler livros frequentemente de forma a que eu mantenha uma imagem de intelectual pela internet e não um parvo de óculos reprimido que passa o tempo fechado em casa a jogar Resident Evil 6. Talvez lá tudo faça sentido e tudo seja explicado ou de melhor interpretação mas por agora comento o que vi.
O filme tarda um bom tempo até que eu ganhe um minimo interesse. Estava a ser daqueles filmes em que eu ia ver até ao final só para poder falar mal dele na internet (embora, ironicamente, eu pudesse falar pior daqueles que nem consigo acabar como o Sucker Punch que tentei ver 3 vezes mas não dá para mim) mas apareceu o Woody Harrelson que eu nem sabia que fazia parte do elenco. O caso mudou instantaneamente de figura. Woody trouxe o carisma que faltava ao filme! A mais que prova que o seu carisma é enorme está no facto de ser a única pessoa que continua fascinante mesmo tendo este cabelo:
"Porque tu mereces" |
Ok a história acaba por apanhar o meu interesse muito mais à frente. As cenas de treino/preparação são bem pensadas e os conceitos de sobrevivência são bons a ponto de me fazerem ansiar pelos jogos em si. E lá nisso o filme faz um bom trabalho, leva tempo a construir as personagens e o impeto até chegarmos ao que importa. Se as personagens são ou não alguma coisa de jeito é outra história mas a personagem da Jennifer Lawrence (não me lembro do nome e tou preguiçoso para abrir o separador do IMDb) tem a dimensão suficiente para a querermos ver a ser bem sucedida. Mas também ajuda os outros concorrentes serem uns pulhas. Sobrevivência, dizem eles. Gostei também do apresentador pois por alguma razão não consigo tirar os olhos dele. Acho que é por me fazer lembrar o Kléber e eu entrar em conflito com o meu cérebro por isso ser absolutamente estúpido da minha parte.
Finalmente os jogos começam. Ou o jogo, não sei.
Estou a colocar esta imagem aqui porque acho-a espectacular |
A coisa corre relativamente bem até nos ser mostrado que é possível os organizadores criarem o que quiserem no jogo; usando isso para matarem à mercê. Mostra até que ponto são beras mas é parvo e atira por água abaixo toda a história da sobrevivência. Corre, mas é! Mas também não é preciso correres muito porque querem matar-te mas também deixa lá que não se esforçam muito para isso.
Por esta altura eu devo falar da infame "shaky cam" deste filme. Aparentemente, o realizador quis mostrar com isso o caos que a personagem da Jennifer Lawrence está a ver. Portanto eu imagino que ela não está a ver absolutamente nada que eu também não. Não achei a câmara tão má como me fizeram crer mas há momentos disparatados sim. Eu tenho três tripés cá em casa e mais um escondido algures, posso perfeitamente emprestar para o Catching Fire se ainda tiverem que acabar alguma cena. Mas dou pontos para a cena do envenenamento, o efeito ficou porreiro.
Há por lá escondido uma cópia do Jacob mas é com agrado e surpresa que vejo ser um filme que não quer saber dos jovens atraentes. Ou pelo menos não se centra muito nisso, pronto.
O final podia ser melhorzinho mas é aceitável.
Ora, embora eu aprecie que seja um filme violento e com uma temática interessante e certamente com potencial, não explora o suficiente para se tornar memorável. Demora tempo até acabar por ter pontos a seu favor mas não faz quase nada com eles. É um pouco como este parágrafo em que eu falo de forma tão geral que não estou praticamente a dizer nada. Mas digo isto: mesmo que eu não tenha gostado do filme, não chega nem de perto ao nível do Harry Potter mas é dos melhores filmes/fenómenos teenager pois os diálogos não são mal escritos e a história, apesar de meio parva, é adulta o suficiente para este tipo de filme.
Devo estar a contradizer-me mas resumindo: há quem goste, percebo que gostem, mas por mim não fez absolutamente nada. Não podia ter ficado mais indiferente à existência do filme.
Mas tem o Woody Harrelson por isso dou-lhe 8/10
"Disseram-me que isto era um remake do 'Battle Royale'!
Vou tão despedir o meu agente, o Antunes!"
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Eu dei-lhe 6/10 mas acho que gostei tanto do filme como tu :P Ainda que por razões diferentes, pois não tenho problema com a filmagem dos jogos, mais com a enorme, infinita, aborrecida preparação dos tributos. Acho que é a primeira referência à Almirante Reis alguma vez feita em críticas de cinema.