“Fahrenheit 9/11” e “Menos 9”
Eis que chegou esta sexta-feira (20 de Maio) a derradeira sessão do 1º ciclo de Cinema Olhão’05, e as fitas seleccionadas para o encerramento foram o polémico documentário de Michael Moore “Fahrenheit 9/11” e uma divertida curta portuguesa intitulada “Menos 9”.
Desta vez, os convidados foram três (perdoem-me, mas não anotei o nome de todos). O primeiro a usar da palavra foi o Sr. Augusto Calé, que recordou alguns momentos da história do primeiro Cineclube de Olhão, criado há cerca de cinco décadas. O convidado seguinte além de umas palavras sobre “Fahrenheit 9/11” comentou sobre o filme “Respiro” (exibido na semana anterior, devido a troca de bobinas) e as escolas cinematográficas que influenciaram o filme de Emanuele Crialese. Por fim, uma estudante do curso de Comunicação Social da UAlg fez uma breve descrição das técnicas utilizadas na montagem de “Menos 9”, nomeadamente a utilização de flashbacks e do som.
A curta-metragem de Rita Nunes, datada de 1997, é uma das produções portuguesas mais divertidas que já assisti. Com uma duração de 12 minutos, baseada no livro de contos “Crimes Exemplares” (inspirado em testemunhos de crimes reais), a realizadora consegui criar uma produção ritmada, que não apressada, mantendo o essencial de uma história constituída pela narração na primeira pessoa, e com recurso a flashbacks, de crimes, no mínimo, absurdos mas totalmente justificados. Por exemplo, a história de uma patroa atormentada por uma empregada gorda e que não para de falar. A solução? Fechou-lhe a boca com um garfo. Segundo a assassina a empregada não morreu da hemorragia. Rebentou com as palavras que não pode deitar para fora. Ou o jovem que estoicamente espera por um amigo na estação de comboios. O tempo passa, e nada. Uma hora depois chega ele, sem pressas, a sorrir. Obviamente, nada mais restava do que atirá-lo para debaixo de um comboio. Num registo adequado ao tom irónico da fita, sem pedantismos ou pretensões, estas confissões de assassinos, deviam ser um exemplo para outras produções nacionais.
O incendiário documentário que tentou derrubar George W. Bush do poder, procurando reunir uma colecção de factos comprometedores para ele e para a sua administração, é um documentário com ritmo, momentos divertidos e que nos faz reflectir sobre factos que nos são dados como a verdade, ao mesmo tempo que deixa a sensação que tudo pode não passar de coincidências ou manipulações para conduzir a linha de pensamento do espectador. E enquanto espectador, julgo que uma sequência que não contribui em nada para o filme é a da história da mãe que depois do filho morrer nas areias do Iraque muda radicalmente a sua posição em relação ao Exército e à guerra. O ponto onde Moore acerta em cheio é quando quase no final nos deixa uma citação da obra de George Orwell, “1984”, mais actual do que nunca. Em suma, um documentário em tom diferente dos habituais devido à sua posição assumidamente parcial, bem-humorado, e que se alonga um pouco mais (122 minutos no total) do que o material frágil em que se apoia lhe permite. E olhem que sou um apaixonado pelas chamadas teorias da conspiração.
Uma ultima palavra sobre este ciclo de cinema: sinto que posso dizer que esta iniciativa foi um passo muito importante para aumentar o nível cultural da cidade de Olhão, e como tal, mais iniciativas do género são necessárias e bem vindas.