Se existe opinião unânime sobre a 78ª entrega dos Prémios da Academia, hosted by Jon Stewart (“The Daily Show”, “Death to Smoochy”), é que a maior surpresa ficou guardada para o final, ergo, a atribuição do galardão de Melhor Filme a “Crash” (Colisão, em terras lusas), de Paul Haggis (um dos criadores da série Walker, o Ranger do Texas”, e o argumentista nomeado – no ano anterior - de Million Dollar Baby). Isso só pode ser bom para as vendas de um filme que já saiu em DVD! Outra surpresa foi a vitória do tema "It’s Hard Out Here for a Pimp" extraído da banda sonora de “Hustle & Flow”. What the f#*#? E ainda houve quem reclamasse da música do Titanic?
Este ano, ao contrário dos anteriores, não assisti previamente a nenhum dos filmes nomeados – alguns recém estreados em Portugal – por isso, não fiz lobbie, nem torci por nenhum deles. (Num aparte, como retaliação de “Chicado” ter incompreensivelmente roubado o Óscar de “O Senhor dos Anéis. As Duas torres”, ainda me recuso a alugar esse DVD! Back, you devil!). Porém, já há vários anos que não acompanhava uma cerimónia tão divertida, deste a extraóridnária ironia dos comentários de Jon Stewart até ao atrevimento dos diversos segmentos e clips de filmes que animaram a noite. Impagável a montagem de westerns clássicos, que vistos através do filtro “Brokeback Mountain”, ficam um pouco…gay; e os clips de “promoção” a alguns dos nomeados. Hilariante!
Já vem sendo habitual a apresentação dos prémios de animação serem “apresentados” por personagens virtuais, desta vez uma divertidíssima intervenção de duas personagens CGI de Chicken Little, que se interrogaram sobre o porquê dos patos dos filmes de animação nunca terem calças (o Mickey tem calças, o Pateta também, mas o Donald…anda sempre com as partes baixas ao ar livre). Um momento divertido, mas que no final falhou na parte técnica, porque no momento de pronunciar o vencedor só se ouviu…silêncio e a personagem a mover a boca sem som! Só se consegui descobrir o comtemplado do prémio depois de este ter subido ao palco para os agradecimentos, que este ano no geral, não foram nem muito prolongados nem especialmente inspirados. Crei que muita gente estava à espera que Philip Seymour Hoffman ladrasse aos microfones, como a lenda garante que jurou aos seus amigos de juventude fazer no caso de ganhar um Óscar.
Um dos primeiros prémios a ser entregue foi o de Melhores Efeitos Visuais (a que presto sempre especial atenção, visto a minha predilecção por cinema fantástico e ficção cientifica), atribuído a King Kong, na minha opinião um justo vencedor, uma recompensa ao titânico trabalho levado a cabo pela equipa que trabalha para Jackson. O filme, que ganhou ainda os galardões de Melhor som e Melhores efeitos sonoros, pelo menos nesses aspectos, é irrepreensível. King Kong perdeu apenas a nomeação para Melhor Direcção Artística, para as Memórias de uma Gueixa.
Mas falando de efeitos especiais, foi notória a ausência nas nomeações do derradeiro episódio da saga galáctica de George Lucas, “A Vingança dos Sith” (nomeado apenas para Melhor Caracterização), que trouxe ao grande ecran efeitos nunca vistos, criando um universo visual mais próximo da fantasia do que da ficção cientifica hardcore, mas de grande imaginação e beleza. Lembro apenas a operática batalha espacial que abre o filme.
Outra surpresa foi “Munique”, mas neste caso por não ter levado para casa nenhum dos prémios das cinco nomeações. A Academia não se terá atrevido a premiar o filme que agitou as duas partes de uma guerra suja (existem guerras limpas?) que parece estar para durar.
A propósito do filme de Spielberg, o compositor lendário “John Williams” alcançou – com a dupla nomeação por “Memórias de um gueixa” e “Munique” as 45 nomeações e empatou com Alfred Newman, no posto de compositor mais vezes nomeado. Não ganhou, mas para o ano há mais. Como curiosidade relacionada, o técnico de som Kevin O’Connell, nomeado na categoria de Melhor Som, é o individuo mais vezes derrotado na história dos prémios da Academia: com a deste ano, acumulou 18 derrotas!
Sobre o prémio de Melhor Longa-metragem de Animação, porquê se destaca tanto este ano o facto de os nomeados não serem filmes criados em CGI (como “Shreck”, por exemplo) e consagrados como o regresso à animação tradicional. Apenas um deles é em desenhos animados e ainda assim utiliza imagens computorizadas nalgumas sequências (“O Castelo Andante”) e os outros dois nomeados são em animação de volumes, sistemas muito diferentes do tradicional desenho animado da Disney.
De seguida fica a lista completa do palmarés dos prémios dos Óscares de 2005:
MELHOR FILME
CRASH
MELHOR REALIZADOR
Ang Lee -BROKEBACK MOUNTAIN
MELHOR ACTOR PRINCIPAL
Philip Seymour Hoffman - CAPOTE
MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
George Clooney - SYRIANA
MELHOR ACTRIZ PRINCIPAL
Reese Witherspoon - WALK THE LINE
MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
Rachel Weisz -THE CONSTANT GARDENER
MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
WALLACE & GROMIT IN THE CURSE OF THE WERE-RABBIT
MELHOR FOTOGRAFIA
Dion Beebe -MEMOIRS OF A GEISHA
MELHOR GUARDA ROUPA
Colleen Atwood -MEMOIRS OF A GEISHA
MELHOR DOCUMENTÀRIO
Luc Jacquet -MARCH OF THE PENGUINS
MELHOR FILME DE LINGUA ENSTRANGEIRA
Gavin Hood (África do Sul) -TSOTSI
MELHOR BANDA SONORA
Gustavo Santaolalla -BROKEBACK MOUNTAIN
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"It’s Hard Out Here for a Pimp" - HUSTLE & FLOW
MELHOR DOCUMENTÁRIO- CURTA METRAGEM
Eric Simonson -A NOTE OF TRIUMPH: THE GOLDEN AGE OF NORMAN CORWIN
MELHOR DIRECÇÃO ARTISTICA
John Myhre e Gretchen Rau -MEMOIRS OF A GEISHA
MELHOR MAQUIAGEM
Howard Berger e Tami Lane -THE CHRONICLES OF NARNIA:THE LION, THE WITCH AND THE WARDROBE
MELHOR MONTAGEM
Hughes Winborne -CRASH
MELHORES EFEITOS VISUAIS
J. Letteri, B. Van’t Hul, C. Rivers e Richard Taylor -KING KONG
MELHORES EFEITOS SONOROS
Mike Hopkins e Etahn Van der Ryn -KING KONG
MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
Larry McMurty e Diana Ossana -BROKEBACK MOUNTAIN
MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
Paul Haggis e Robert Moresco -CRASH
MELHOR SOM
C. Boyes, M.Semanick, M.Hedges e Hammond Peek -KING KONG
MELHOR CURTA-METRAGEM – IMAGEM REAL
Martin McDonagh -SIX SHOOTER
MELHOR CURTA-METRAGEM -- ANIMAÇÃO
John Canemaker -THE MOON AND THE SON: AN IMAGINED CONVERSATION