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TOP DE DAVID LOURENÇO



1- Shadow Of A Doubt (Alfred Hitchcock, 1943) - Joseph Cotten passeia a sua classe e dá um tom de mistério e dúvida à sua personagem como poucos atores na história de Hollywood teriam conseguido fazer, mas basta ver os primeiros 10 minutos, em que uma família inteira anda para trás e para a frente dentro de casa a tentar decidir se vão mandar um telegrama para o tio Charlie, se a chamada que receberam pouco tempo antes seria do tio Charlie, para depois perceber que sim, e bla bla bla, para reconhecer que os diálogos de Shadow Of A Doubt são execráveis, que todo o argumento falha em transmitir o suspense que é legítimo esperar de um filme de Hitchcock e que a Patricia Collinge é mais irritante do que unhas a chiar num quadro, ou os travões de um autocarro a guinchar na rua, ou o zumbido de um mosquito perto do ouvido.


2 - The Usual Suspects (Bryan Singer, 1995) - Um filme liso e insípido que aposta demasiado no efeito surpresa de uma reviravolta final que, no mínimo, não é grande coisa. É difícil falar deste filme sem revelar o que acontece realmente, por isso... há esqueçam, já toda a gente viu isto: The Usual Suspects não tem história nenhuma, não tem textura nenhuma, e, no entanto, é aclamado como um drama de crime supostamente eletrizante sobre um assassino que engendra um plano para matar uma pessoa que o conseguiria identificar, para se deixar ser apanhado e questionado pela polícia, para fazer jogos mentais com um detetive, enquanto outra pessoa que também o conseguiria identificar está num hospital a dar pistas à polícia e o momento em que está prestes a ser apanhado é o momento em que é libertado da esquadra. De-ma-si-a-dos bu-ra-cos.


3 - The Mist (Frank Darabont, 2007) - Tudo o que este filme tenta fazer cai no ridículo. A ânsia de vilificar as multidões com suposto realismo torna rapidamente o filme num festim de histeria falsa, com Marcia Gay Harden a merecer uma sessão de apedrejamento por uma das interpretações mais irritantes da história do cinema. Os efeitos especiais são paupérrimos. Não há sentido de suspense nenhum (basta comparar este filme com The Fog para ver como o nevoeiro pode ser corretamente utilizado num filme de terror). O final não tem o efeito de desespero e de solução final que Darabont parece pretender, porque chega a uma conclusão fraca que é imediatamente contrariada por outra ainda pior e só então aparecem os créditos finais, como se me tivessem oferecido um presente que eu não queria mas que aceito por cortesia e logo a seguir mo tirassem da mão porque afinal aquele era para um primo meu e o presente que me era destinado ainda acaba por ser pior. Não podiam ter usado o último capítulo do livro?


4 - Saw (James Wan, 2003) - Alguma criatividade, muitos buracos. Se me permitem, redireciono-vos para a minha crítica sobre este filme: http://onarradorsubjectivo.blogspot.pt/2011/11/saw-james-wan-2004-310.html


5 - Gummo (Harmony Korine, 1997) - Não concebo que alguém veja neste filme algo de profundo, de poético, de perturbador. Não é tanto pelo facto de não ter história, de não ter um único plano visualmente interessante, de parecer pouco profissional em certas alturas, mas mais pelo facto de ser um vazio completo. Não gera em mim qualquer reação a não ser sono profundo. Ah esperem, afinal contrariei a minha primeira frase!

6 - Du Levande (Roy Andersson, 2007) - Isto é como não se faz um filme-mosaico. São dezenas de segmentos sem relação entre eles, e mesmo, infelizmente, sem algo que me faça querer saber mais sobre as dezenas de personagens que desfilam pelo ecrã. Umas têm umas histórias sobre isto, outras têm umas histórias sobre aquilo, que se empilham para nunca mais serem usadas. É como uma equação de vários membros, cujo resultado final é zero, até pela forma impassível e indiferente com que Andersson escreve e filma.

7 - Arsenic And Old Lace (Frank Capra, 1944) - A premissa é decente, mas cada nova cena leva-a para uma história mais estúpida. É um filme extremamente longo e infetado com overacting, o tipo de overacting que talvez resultasse nos anos 40 mas parece apenas parvo hoje.

8 - Ikiru (Akira Kurosawa, 1952) - Ao contar uma história, há duas formas muito fáceis de manipular as emoções das pessoas: uma é matar um animal, a outra é pôr um velhinho a pensar na morte. Em 1952 estreou Umberto D., um filme que se mete no meio desses clichés, que os encara de frente e que os evita tanto quanto possível, para os abraçar com compaixão quando consegue finalmente desprovê-los de sensacionalismo. Também em 1952 estreou Ikiru, um filme que põe um velhinho com lágrimas no canto do olho sempre que possível, um filme sem noção de ritmo, com muitos japoneses ruidosos, nenhum dos quais tem um pingo de dignidade ou respeito, em que já sabemos o que vai acontecer desde o início (o velhinho vai morrer - quer dizer, o médico não diz nada disso, mas podemos confiar noutro velhinho que faz o seu bem informado diagnóstico na sala de espera), em que o que sabemos que vai acontecer acontece uma hora antes do fim, mas no qual Kurosawa não nos quer deixar ir embora porque temos de aprender uma lição. Até quando o senhor Watanabe se embebeda, a culpa não é sua, mas de um escritor que o incentiva a gastar dinheiro em álcool e prostitutas. O que é completamente desprovido de ethos, ao contrário de "cultivar interesse" numa rapariga 40 anos mais nova...

9 - Duck Soup (Leo McCarey, 1933) - Para mim este filme resume-se à cena do espelho e duas ou três frases (como a do clube de idiotas, que Woody Allen usaria em Annie Hall). O resto é humor de escola primária.

10 - Eraserhead (David Lynch, 1977) - Não consigo processar o Eraserhead, e muito menos o pretensiosismo que o rodeia. Em boa verdade, é um filme consistente: tem um ambiente único e impossivelmente desolador, uma conjugação de som e imagem fascinante... mas equivale a pouco. É um delírio que não me instiga o pensamento. É irrelevante mas não deixa que se desvie o olhar. Como tal, há toda uma série de teorias para o explicar e tornou-se requisito mínimo para entrar em cursos de arte que se goste dele. Eraserhead acaba por ser prejudicado duplamente, pelo que a sua entrada nesta lista é e não é injusta, porque, ainda que alheio ao estatuto de filme de culto que lhe dão sem o merecer, não deixa de ser a definição de monotonia. A sério, no dicionário diz: monotonia (s.f.), falta de variedade, Eraserhead, sensaboria. Look it up!

O nosso obrigado ao David Lourenço, que aceitou partilhar o seu TOP connosco. Visitem o seu blog: "O Narrador Subjectivo"! 
E queremos que comentem as escolhas do David Lourenço!!

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5 comentários até agora:.

  1. David o que são buracos para ti? conta-me tudo!

  2. Hugo says:

    Desta lista eu concordo com "Eraserhead". Um filme pretensioso e absurdo. Não sou grande fã de David Lynch, considero que em alguns filmes ele exagera querendo se diferente, como neste caso.

    Abraço

  3. Uma lista com muita coisa que desconheço... ou que nunca me atraíram ver, talvez porque em tempos ou passavam na tv ou nunca os veria. Acho que o do Hitchcock não o vi... ou pelo menos não me marcou se é que o cheguei a ver.
    Ao mesmo tempo os que conheço destes "odiados" são filmes que valorizo: "Os Suspeitos do Costume", "The Mist", "Saw".
    O "Eraserhead" mal me lembro mas nada contra ou a favor... deveria rever mas... que se lixe pois já tenho tantos por ver que nem consigo dar vazão a tudo...

  4. Gosto da lista, vejo poucos com coragem para falarem mal de filmes de culto, especialmente os que são a preto e branco pois como dizes "...tornou-se requisito mínimo para entrar em cursos de arte que se goste dele." que serve para o Eraserhead como para tantos outros. É quase crime apontar o dedo para alguns filmes e por vezes é mesmo considerado crime.

    Mas ainda estou curioso para ver o Eraserhead =P Chama-me à atenção embora saiba muito pouco sobre ele. Ou melhor, não sei mesmo nada do filme para além da apreciação em torno dele.

  5. Obrigado, Bruno! Tem de se ver o Eraserhead. É original, não há como negar. Agora, isso não é suficiente :P

    Obrigado por todos os comentários! Quanto ao The Usual Suspects, basta começar pelo facto de o maior criminoso do mundo ficar horas numa esquadra a dar pistas sobre si mesmo. Dá-se a tanto trabalho para matar uma pessoa que sabe a sua identidade, mas não tem problemas em revelá-la à polícia. Se era assim tão bom, como é que se deixou apanhar? Se o anonimato era assim tão importante, ser fotografado pela polícia não seria a modos que problemático? Há toda uma série de incongruências e improbabilidades que são demasiado, que minam tudo.

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